“Sobre o terror da morte”

“Nós, humanos, somos a única criatura para quem a nossa própria existência é o problema.”

Irvin D. Yalom

O psicoterapeuta existencialista Irvin D. Yalom oferece-nos neste livro, De olhos fixos no Sol, ultrapassar o terror da morte, a sua reflexão pessoal sobre a nossa ferida universal que é a ferida da mortalidade: A nossa existência será sempre assombrada pelo conhecimento de que iremos crescer, florescer e, inevitavelmente, murchar e morrer.

Yalom partilha as várias situações clínicas que foi conhecendo ao longo de décadas de acompanhamento de pessoas, algumas com doenças crónicas incuráveis, e de como o terror da morte se assoma sob muitos disfarces. Neste livro tomámos consciência de como a ferida da mortalidade é tão ardilosamente mascarada por nós próprios, em várias circunstâncias da nossa vida, como a cobrimos com os melhores trajes e motivos, como a escondemos do nosso olhar e do olhar dos outros. Mas a morte irrompe mansamente na nossa vida … porque a morte não morre, e verbalizamo-la como o medo do mal, o medo do abandono, o medo da aniquilação e, afinal, o que sentimos é o medo de morrer.

Durante a nossa vida quotidiana, há experiências dramáticas que catalisam o nosso despertar para a transformação interior, experiências que nos levam a sair do modo comum e tomarmos a consciência de ser. Estas experiências de despertar, como por exemplo, o sofrimento da perda de alguém amado, as doenças ameaçadoras de vida, o fim de uma relação íntima, as catástrofes naturais, entre outras, são as maiores catalisadoras para vivermos uma vida melhor. Yalom explica que existe uma correlação positiva entre o medo de morrer e a sensação de uma vida não vivida, ou seja, quanto menos vivida é uma vida, maior a ansiedade da morte; quanto mais alguém sente que falha os seus sonhos, mais medo terá da morte.

Yalom apresenta-nos alguns recursos para superar este terror da morte. O primeiro deles é o rippling. O rippling está associado ao trabalho do legado material ou imaterial, refere-se ao facto de que cada um de nós cria – frequentemente sem intenção ou consciência de o ter feito – círculos concêntricos de influência que poderão tocar os outros durante anos, ou até gerações. Ou seja, o efeito que exercemos em alguém é por sua vez passado a outras pessoas, à semelhança das pequenas ondas concêntricas que criamos quando atiramos uma pedra a um lago, que se vão alargando, alargando até se perderem de vista, mas que na realidade continuam a um nível infinitesimal. Outro recurso, altamente sanador para superar o terror da morte são as relações interpessoais. É na intimidade das relações (interpessoais e também as terapêuticas) que a solidão, essa potenciadora da angústia de morrer, encontra alento. Finalmente, as suas últimas palavras são dirigidas aos terapeutas, a todos os profissionais que lidam com o medo da morte, e à necessidade de que cada um entre em contacto, com este medo universal para assim poder chegar mais perto, no aqui e no agora, dos que assiste e acompanha.

Grupo de Estudos e Reflexão em Medicina Narrativa (GERMEN)

Susana Magalhães e Manuela Bertão
Maio 2023