Prémio Nobel da Medicina para os descobridores do vírus da Hepatite C

O Prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina foi hoje atribuído a Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice, três cientistas que em 1989 descobriram o vírus da hepatite C. E se algo pode surpreender-nos nesta notícia, será apenas o facto de ter demorado 31 anos desde a descoberta até à atribuição deste prémio!

A descoberta deste novo vírus permitiu identificar a causa de grande número de casos de hepatite crónica de etiologia indeterminada, até aí designada não-A, não-B, e possibilitou o desenvolvimento de testes capazes de fazer o diagnóstico da doença. Daí à possibilidade de tratamento, foi um pequeno-grande passo: a partir de 1991 com o interferão alfa, de eficácia limitada mas já conseguindo algumas curas; uma década depois com o aparecimento da ribavirina e dos interferões peguilados; a partir do final da segunda década após o conhecimento do vírus, com o surgimento vertiginoso de múltiplos antivirais de ação directa que possibilitam a actual taxa de cura de quase 100%. Em consequência, já muitos milhões de doentes foram tratados e curados.

Entretanto, o conhecimento do vírus e das suas formas de transmissão, em conjunto com o desenvolvimento de testes de diagnóstico, permitiu a quase total eliminação da hepatite C pós-transfusional e a diminuição do número de novos casos transmitidos por outras vias.

Para muitos de nós que se dedicam ao acompanhamento dos doentes do foro hepático, este vírus e as doenças por ele causadas fizeram parte da nossa vida clínica diária e foram nossos verdadeiros “compagnons de route” ao longo das últimas 3 décadas.

E aqui estamos, 31 anos depois desta descoberta, a tentar contribuir para o objetivo estabelecido pela OMS de erradicar a hepatite C até 2030!

Arsénio Santos
Coordenador do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado

Lisboa, 5/10/2020