Percurso multidisciplinar de cuidados geriátricos: Hospital de VFX com projeto inovador

No Hospital de Vila Franca de Xira é aplicada uma abordagem geriátrica diferenciada e integrada a vários níveis. O hospital oferece um percurso multidisciplinar de cuidados geriátricos. Um projeto sonhado, desenhado e coordenado por Eduardo Doutel Haghighi, especialista em Medicina Interna e um dos primeiros médicos a ter a competência em Geriatria, em Portugal.

Em entrevista à Just News, que será publicada na próxima edição do Jornal Médico, Eduardo Doutel Haghighi afirma que, “ao contrário do que se possa pensar, apenas 15% dos doentes idosos internados nos serviços de Medicina beneficiam realmente de uma abordagem geriátrica diferenciada”.

Percurso multidisciplinar de cuidados geriátricos: Hospital de VFX com projeto inovador
O coordenador do Percurso do Doente Idoso do Hospital de Vila Franca de Xira (HVFX) deu início, o ano passado, à concretização de um sonho que perseguia há alguns anos e que passa, fundamentalmente, por prestar melhores cuidados aos idosos, tendo em conta as suas particularidades.

Abordagem geriátrica diferenciada

O Percurso do Doente Idoso do HVFX, à semelhança de outros circuitos existentes no hospital, dirigidos a doentes com particularidades distintas (é o caso do Percurso Clínico do Doente com AVC), permite detetar, desde a entrada do paciente no hospital, pelo Serviço de Urgência ou pela consulta, os idosos que necessitam de uma abordagem geriátrica diferenciada.

Geralmente, pensa-se que, a partir dos 65 anos, quase todos os utentes se enquadram nos cuidados de Geriatria, mas não é bem assim. “Temos visto isso aqui na Unidade”, salienta o coordenador. A melhor prova está no facto de os critérios de inclusão serem dez e os de exclusão 20.

“Simplificando, quem beneficia desta abordagem tem de ter mais de 65 anos, apresentar pluripatologias, fazer polimedicação (de preferência, mais de cinco fármacos), ter história de quedas, elevado risco de institucionalização e/ou perda de capacidade física ou cognitiva recente”, refere Eduardo Doutel Haghighi.

O especialista esclarece que estes pontos foram dados a conhecer a todos os profissionais de saúde do hospital e frisa: “É preciso informar, para que todos estejam alerta. É necessário trabalhar de forma multidisciplinar e coordenada.”

Percurso clínico não implica gastos elevados

A abordagem diferenciada ao idoso, a denominada avaliação geriátrica global, analisa “de forma multidisciplinar a condição física, mental, funcional, social, nutricional e anímica do idoso, com o objetivo de estabelecer e coordenar planos de cuidados, serviços e intervenções que respondam aos seus problemas, às suas necessidades e incapacidades”.

Apesar de ser um projeto novo, Eduardo Doutel Haghighi garante que não implica grandes custos para o hospital: “Não foi preciso construir nada. Só é necessário identificar, abordar de forma diferente, implementar ações de formação e mudar atitudes.”

No internamento, “os vários profissionais passaram a ter uma intervenção mais regular” e dá alguns exemplos: “posso chamar a assistente social, o dietista ou o fisioterapeuta com mais regularidade”. Por outro lado, refere que têm-se implementado atitudes básicas, “tais como a necessidade de se levantar o doente o mais precocemente possível, estar mais atento à hidratação, retirar medicação endovenosa desnecessária, rever se a medicação é apropriada ao idoso e envolver mais os familiares/cuidadores”.

Equipa: Sandra Lopes (fisioterapeuta), Gisela Rocheta (dietista), Eduardo Doutel Haghighi, Margarida Carvalho (assistente social), Maria José Nunes (assistente social), Marisa Pereira (enfermeira) e Fátima Afonso (administrativa).

Promover a replicação de projetos semelhantes

Como salienta Eduardo Doutel Haghighi, todos os benefícios de que ouviu falar sobre cuidados geriátricos já está a vê-los no terreno: “Reduz-se a mortalidade, as transferências para lares após a alta hospitalar, o tempo médio de internamento, os reinternamentos, a mortalidade intra-hospitalar, a deterioração funcional e cognitiva, além de se diminuir os encargos com a assistência.”
Deixando uma palavra aos seus colegas, realça que a comunidade médica tem vindo a aperceber-se cada vez mais da importância dos cuidados geriátricos, mas ainda há muito trabalho a fazer. “Quem gosta realmente de Geriatria tem de continuar a mostrar os benefícios desta competência para os doentes e fazer por replicar projetos semelhantes ao que estou a coordenar”, afirma.
“Ele é o mentor da Geriatria em Portugal”

Eduardo Doutel Haghighi tem 33 anos e é um homem que não desiste facilmente. “O meu lema de vida é que quem luta muito consegue.” Nascido no Irão, filho de pai persa e mãe portuguesa, veio para Lisboa com apenas 3 meses. “Estudei 15 anos no Liceu Francês e posso dizer que França é o meu segundo país.”

Desde cedo que quis ir para Medicina, tendo surgido o interesse pela Geriatria no 5.º ano do curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Desde então, estudou tudo o que havia sobre Geriatria, tendo-se tornado um grande amigo do internista e geriatra João Gorjão Clara.

“Na minha opinião, ele é o mentor da Geriatria em Portugal e é graças a ele que eu e todos os que estamos a trabalhar e a estudar nesta área continuamos a lutar por melhores dias para a Geriatria. O seu empenho é um exemplo na minha vida e posso mesmo dizer que este projeto também se deve a ele.”

(12/01/2017)