Limiares da auto-imunidade: Atualização

Limiares da auto-imunidade: Atualização

“A abordagem das síndromes autoinflamatórias , principalmente no adulto, requer não só a experiência clínica para identificar atípicas em quadros clínicos inespecíficos, mas também algum conhecimento molecular imunopatológico para as diagnosticar e tratar”, afirmou Raquel Faria, internista da Unidade de Imunologia Clínica do Centro Hospitalar e Universitário do Porto e médica no Instituto Médico de Estudos Imunológicos, na sua apresentação sobre “Mecanismos imunológicos e patológicos na auto-inflamação”.

No decorrer da apresentação, a médica apresentou vários casos clínicos onde se levantam questões respeitantes ao diagnóstico das síndromes autoinflamatórias: “Quando suspeitar? Como proceder para a confirmação diagnóstica? Que limiar de suspeita deve levar ao estudo genético? E que estudo genético é o mais indicado?”.

Concluiu, referindo que ainda há um longo caminho a percorrer, por considerar que “os quadros clínicos são inespecíficos e ancestrais”, contudo, indicou que os principais sintomas passam por “febre recorrente, exantemas monos ou polimórficos, como a urticária crónica recorrente, serosites, conjuntivites recorrentes com sintomas sistémicos ou surdez neurossensorial, entre outros”. Ainda salientou a importância de o diagnóstico da criança ser diferente da do adulto, quando as manifestações são mais vezes inespecíficas.

Em tom de despedida, Raquel Faria, refletiu que, para uma melhor otimização de pedidos de exames complementares de diagnóstico e das melhores formas de personalizar, os doentes devem ser observados e discutidos de forma multidisciplinar em centros de referência locais e internacionais.

Ainda na mesma sessão, António Marinho, especialista em Medicina Interna na Unidade de Imunologia Clínica do Centro Hospitalar do Porto e professor do ICBAS, trouxe à luz o tema “mecanismos imunológicos e patológicos na imunodeficiência”, onde alertou os especialistas de Medicina Interna para um novo campo de trabalho para os internistas – o das imunodeficiências congénitas. Destacou ainda, que os doentes imunodeficientes “chegam a adultos, e necessitam de um médico capaz de gerir a complexidade dos seus problemas”. Não obstante, o médico fez questão de frisar que “existem muitas patologias que apenas se tornam sintomáticas em idade adulta e que precisam de ser diagnosticadas atempadamente de forma a obterem os tratamentos corretos.”

O internista, demonstrou a evolução do termo “doenças autoimunes” para um conceito mais alargado: o de imunologia clínica. Referindo, ainda, ser fundamental o conhecimento de conceitos de imunologia básica e da regulação do sistema imune para perceber as imunodeficiências complexas que se apresentam com infeções oportunistas, mas também com manifestações de autoimunidade.

“Limiares da autoimunidade: atualização”, que decorreu na tarde de quinta-feira, foi presidida por Lélita Santos, especialista em Medicina Interna, no Centro Hospitalar e

Universitário de Coimbra, moderada por António Marinho, especialista em Medicina Interna, no Hospital da Luz, Arrábida e por Fernando Salvador, vice-presidente do Conselho Sub-Regional de Vila Real da Ordem dos Médicos e contou, também, com a participação de Susana Oliveira especialista em Imunoalergologia, com a temática “auto-imunidade 2019/2021”.