Internistas defendem a integração da Medicina Paliativa em todos os níveis de cuidados

Foi com o tema “Integração dos Cuidados Paliativos no trajeto da doença” que o Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa (NEMPal) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) realizou as suas terceiras jornadas, no passado sábado, na Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, no Porto.

Durante a sessão de abertura das III Jornadas do NEMPal, cujo painel foi constituído por Elga Freire, coordenadora do Núcleo, João Araújo Correia, presidente da SPMI, Edna Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos, Maria Manuel Lopes, representante da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, e António Araújo, presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos, falou-se sobretudo da pertinência do tema e das dificuldades vividas atualmente nesta área, tanto em termos clínicos, como sociais.

“A epidemiologia das doenças mudou radicalmente nas últimas décadas. As estruturas de saúde estão organizadas para dar resposta à doença aguda, logo não respondem adequadamente à nossa realidade, que são as doenças crónicas oncológicas e não oncológicas. Não apenas em idades avançadas, mas também pediátricas”, começou por dizer a coordenadora do NEMPal, Elga Freire.

Acrescentando que “a integração de cuidados é uma condição fundamental para a melhoria dos cuidados de saúde e que a área paliativa deve ser integrada precocemente no trajeto da doença crónica”.

 

Cuidados Paliativos devem estar sempre presentes

João Araújo Correia mostrou-se da mesma opinião: “No trajeto da doença, se queremos ter cuidados integrados, a Medicina Paliativa tem de estar sempre presente, para que qualquer médico possa ter o seu apoio quando necessário.”

O presidente da SPMI fez questão de salientar que a Medicina Interna é uma especialidade generalista, “que se sente confortável” no seguimento e no tratamento do doente complexo, habitualmente idoso, com várias doenças e múltiplas terapêuticas. “Muitos destes doentes precisam de Cuidados Paliativos, quer sejam oncológicos ou não”, observou.

E explicou: “Nas enfermarias de Medicina Interna, cujas taxas de ocupação são superiores a 100 por cento, a média de idades dos doentes ronda os 80 anos. É, por isso, evidente que todos temos de ter conhecimentos em Cuidados Paliativos, sem os quais a qualidade assistencial prestada será inadequada.”

Por essa razão, o internista defendeu ser “mandatório que o ensino pré-graduado inclua uma área significativa de aprendizagem em Medicina Paliativa, assim como um estágio mínimo de um mês com uma equipa de Cuidados Paliativos, obrigatório para todos os internos de Medicina Interna”.

E terminou: “Com apenas seis anos de existência, o NEMPal tem tido uma fantástica atividade na formação, com cursos presenciais organizados pela SPMI, com a publicação de um livro de divulgação de conhecimentos em Cuidados Paliativos, utilizado por vários especialistas, e com a preparação de um curso e-learning.”

 

… Em todos os níveis de cuidados

Edna Gonçalves, presidente da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos, salientou que a “Integração dos Cuidados Paliativos no trajeto da doença” é essencial e “básica”. “Este tema está inserido no plano estratégico desde o início, onde é referido que os Cuidados Paliativos têm de estar em todos os níveis de cuidados, em todos os locais e ser trabalhado com todos os profissionais de saúde. Desde os cuidados de saúde primários e secundários, até aos continuados integrados”, afirmou. Reforçando ser “importante lutar por esta filosofia de trabalho do plano estratégico, que se mantém em vigor.”

Maria Manuel Lopes, representante da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, começou a sua intervenção por dar os parabéns à organização das jornadas pela pertinência do tema. “É preciso haver integração para que cada vez mais os cuidados sejam certos, na altura certa e prestados pelas pessoas certas, aos doentes com diferentes especificidades e necessidades.”, referiu.

E concluiu, reforçando o apoio da associação ao NEMPal e a todas as atividades que promove, bem como agradecendo tudo o que o núcleo tem feito pela promoção desta área e pela sua fundamentação científica.

Segundo António Araújo, presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos, este tipo de eventos “representa a resiliência que os médicos têm”, mesmo em tempos tão adversos como aqueles que vivemos atualmente. “Resiliência no sentido de tentar implementar as boas práticas médicas e de comunicar os seus conhecimentos aos outros colegas. Resiliência no sentido de tentar melhorar a qualidade dos atos que praticamos.”

António Araújo acrescentou ainda que Portugal vive, atualmente, uma “crise social muito grande”. “Um grande número de pessoas vai às urgências com doença social e falta de cuidados. Além disso, a nossa população tem vido a envelhecer e Portugal vai ter uma das populações mais idosas da Europa.”

Segundo referiu, esta realidade vai trazer, como consequência, uma maior carga de doença. “Os doentes vão precisar cada vez mais de apoio social e médico e os cuidados paliativos têm uma importância muito grande nesta integração.”

“Independentemente de todo o poder político e de tudo aquilo que nos digam, uma das grandes características dos médicos é conseguirmos transcender-nos e fazer mais com pouco e a bem dos doentes”, observou. E concluiu: “Muitos parabéns por esta organização.”

 

Entrega de prémios

O dia decorreu com várias apresentações científicas e debates, tendo terminado com a entrega do prémio de melhor póster a Adriana Vasconcelos Oliveira, pela submissão do seu trabalho intitulado “Controlo e tratamento da diabetes em doentes em fim de vida”. O prémio foi entregue por Elga Freire e pelo júri do prémio, formado por Rui Carneiro, Florbela Gonçalves e Isabel Martins.

(10/02/2020)