Diretores de Medicina Interna e Orientadores de Formação reúnem-se em Peniche para discutir desafios da especialidade

Medicina de Proximidade, Hospitalização Domiciliária, Cuidados Paliativos foram alguns dos temas discutidos durante o encontro.

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) realizou, este sábado, dia 13, em Peniche, a Reunião dos Diretores e Orientadores de Formação – numa organização conjunta da SPMI com o Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos – com o objetivo de refletir sobre os desafios e problemas que se impõe à especialidade.

O encontro, que se realizou no Hotel MH Peniche e juntou diretores de serviço de todo o país, subordinou-se, desta vez, ao mote de “A Medicina Interna Reinventada No Hospital do Futuro”.

“Desejamos que esta seja uma discussão profícua e viva, e da qual resultem consensos. Todos nós enfrentamos vários desafios diariamente. Lançamos aqui a semente, para pensarmos neles e arranjarmos soluções”, afirmou Lèlita Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, no arranque da sessão de abertura.

Em representação da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Delfim Rodrigues, Vice-Presidente da APAH, deu início à ordem de trabalhos, protagonizando uma intervenção sobre “A Visão do Administrador Hospitalar”.

“Os médicos internistas são repartidores de jogo e, aí, também está a repartição da liderança. O internista deve ser repartidor de soluções, tarefas, visões, e, no final, ser elemento agregador de todas as atividades hospitalares”, defendeu o responsável, que falava no decorrer da mesa-redonda “Medicina de Proximidade – Hospital Aberto e Cuidados Domiciliários”.

A Hospitalização Domiciliária foi, no período da manhã, o tema principal à qual diretores e orientadores de formação dedicaram especial atenção.

Coordenador do Programa Nacional de Implementação das Unidades de Hospitalização Domiciliária nos Hospitais do SNS, Delfim Rodrigues destacou os resultados conquistados no país enaltecendo o investimento aplicado, muito abaixo daquele que seria necessário em unidade hospitalar.

“No final de 2019 tínhamos 3000 doentes tratados, o que significava 129 camas em hospital. A 21 de janeiro de 2020 tínhamos 24 unidades tendo no fim desse ano tratado 8000 doentes. Ao longo destes três anos, tratámos, até setembro, cerca de 16 mil doentes, algo que se traduziria em um hospital físico de 300 e poucas camas. Fizemos tudo isto com cerca de 10 milhões de euros. Num hospital corresponderia a 300 milhões de euros”, disse Delfim Rodrigues.

Diretor do serviço de MI do Centro Hospitalar do Porto (CHUP), João Araújo Correia trouxe à sala uma reflexão sobre “A Medicina Interna em Transformação”.

“Nos últimos 25 anos, a forma de fazer medicina interna modificou-se radicalmente. Aquilo que me dá mais satisfação é ver que temos feito essa modificação sem dramas porque estamos muito adaptados a fazê-la. Nunca perdemos a capacidade de nos adaptarmos às necessidades”, elogiou o responsável.

Na sua intervenção, o presidente cessante da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna considerou que o hospital do futuro “deferirá muito do atual”, citando uma frase proferida pelo ex-ministro da Saúde Correia de Campos, in Administração Pública e Saúde, Almedina.

Deve sim funcionar agregando todos os players do setor da saúde, defendeu. “No futuro deve evoluir-se para integração entre hospital, cuidados primários, saude publica, cuidados continuados e assistência social”, disse, frisando que “atualmente é de serviços estanques, centrados no médico e especialidade”.

O internamento, considerou ainda, deve reservar-se «para casos graves e deve apostar-se na hospitalização domiciliária e em unidades de diagnóstico rápido». A Inovação digital é, sustentou ainda, «fundamental com registos clínicos e resultados de exames acessíveis para os doentes».

«A prestação de cuidados centrados no doente exige uma reorganização hospitalar profunda, por patologias», frisou ressalvando que a «Medicina Interna está preparada para ser vetor de mudança».

Seguiu-se a sessão “Bons Exemplos de Cuidados de Saúde Integrados”, moderada por Vasco Barreto (SPMI) e Amélia Pereira (CEMI).

José Presa, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF), protagonizou uma intervenção sobre “Consultas Abertas Específicas”, durante a qual falou sobre a sua experiência profissional na Unidade de Hepatologia, do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD)  e a qual tem sido diferenciadora no tratamento da doença hepática.

«Um centro hospitalar deve disponibilizar cuidados de saúde de proximidade», como demonstrado pela consulta existente na Unidade de Chaves desde 2008, atualmente com dois períodos semanais e a consulta na Unidade Lamego desde 2021, com dois períodos semanais.

O dia de trabalhos ficou ainda marcado por uma reflexão sobre Modelos de Contratação Hospitalar em Medicina Interna, levada a cabo por Fernando Salvador, Diretor do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro.

A terminar a participada reunião, os diretores de Medicina Interna e Orientadores de Formação debruçaram-se sobre Modelos de Avaliação e Classificação do Internato de Formação Específica em Medicina Interna.

Na sessão de encerramento, a presidente da SPMI Lèlita Santos concluiu deixando uma mensagem de agradecimento pela adesão e empenho de todos os presentes.

«Quer de manhã quer à tarde foram discussões muito interessantes, e bem se viu que tivemos êxito. O nosso dia foi bem empregue. Temos agora muitas ideias, vamos continuar a pensar e prestigiar a especialidade de Medicina Interna».

(13/11/2021)