Como está a nossa saúde?

A sabedoria popular sempre nos disse a propósito dos valores da saúde: “Que se vão os anéis e fiquem os dedos!”

Damos tudo para ter saúde. Sem ela, a vida perde o sentido e fica desgovernada. Não conseguimos construir nada quando somos confrontados com a nossa fragilidade e o espetro dum tempo de vida limitado. Às vezes, nem é preciso sentir que a morte nos está a bater à porta, para nos sentirmos fracos e vulneráveis. Costumo dizer que o homem se confronta com a sua verdadeira dimensão, pequena e substituível, quando tem dois dias de diarreia profusa.

Mas, apesar do seu valor inquestionável, a saúde tem um preço, como bem lembra o ditado, com a perda dos anéis…

A sustentabilidade dos sistemas de saúde é uma preocupação em todos os países, que vai crescendo à velocidade vertiginosa com que aumentam os custos dos meios de diagnóstico e de terapêutica.

Antes de mais, há que combater o desperdício, evitando a execução de exames desnecessários, a obstinação terapêutica, as terapêuticas fúteis ou o prolongamento dos internamentos hospitalares, sem justificação clínica. Depois, começa a parte mais difícil, que só é possível com uma boa dose de coragem política. Não é fácil assumir que não há dinheiro para tratar tudo a todos, e que temos de fazer escolhas. As decisões têm de ser transparentes, visando o benefício de um grande número de doentes, para que tenham uma vida mais longa, mas com qualidade. Nunca podem ser casuísticas, ou tomadas no calor mediático, que tolda a razão e subverte os princípios.

Portugal deve orgulhar-se de seu Serviço Nacional de Saúde. É das poucas coisas em que estamos no pelotão da frente, quando são feitas avaliações independentes ao desempenho dos sistemas de saúde dos vários países do mundo. Como médico, sinto a responsabilidade de ter decisões racionais, mas estou feliz por não ter de escolher o exame ou o medicamento a pensar na bolsa do doente.

É claro que nem tudo está perfeito. Estamos bem na infância, mas estamos mal na velhice. Vivemos tanto como os outros, mas somos os que têm menos anos com qualidade de vida. A velhice em Portugal é a mais triste da Europa. Com reformas de miséria, é o idoso que tem de fazer escolhas, entre os medicamentos que avia na farmácia e o que vai comer ao jantar.

Artigo de opinião de João Araújo Correia, internista e presidente da SPMI (07/04/2019)