Ciclo de reuniões monotemáticas do NEDVIH chega ao fim com sessão dedicada à doença neoplásica

Mais de um ano depois da primeira sessão, chegou ao fim o ciclo de encontros promovido pelo Núcleo de Estudos da Doença VIH (NEDVIH) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) numa sessão dedicada à doença neoplásica.

No encontro que decorreu em Lisboa, e foi coordenado pela consulta de Medicina /Imunodeficiência do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC), o coordenador do NEDVIH sumarizou os méritos deste ciclo de reuniões.

“É com pena que fazemos a ultima reunião de um ciclo de seis encontros monotemáticos e que teve vários objetivos”, começou por afirmar José Vera:

“O objetivo destes encontros foi plenamente alcançado e passou pelo reconhecimento de que a epidemia e o doente VIH se modificou ao longo dos últimos 30 anos e temos de acompanhar essa evolução e complexidade. Além disso, esta evolução traduz-se na sua cronicidade e maior incidência de comorbilidades a que temos de dar uma resposta diferenciada”, vincou o internista.

Comissão organizadora da reunião com o coordenador do NEDVIH, José Vera

Fazer reuniões baseadas na experiência dos vários núcleos, reconhecendo a qualidade e reconhecendo o papel que estes têm tido ao longo dos anos no apoio ao doente com VIH foi outro dos objetivos enunciados por José Vera, que frisou ainda que é preciso “reforçar o papel da unidades de VIH, que têm de ter o apoio dos serviços de medicina interna e ter uma atenção mais intensa da organização hospitalar”.

Finalmente, concluiu o coordenador do NEDVIH, “é impossível tratar as epidemias se não funcionarmos com a cooperação de várias estruturas, quer hospitalares quer fora dos hospitais. É uma oportunidade de reforçarmos a proximidade com a MGF e outras estruturas do sistema de saúde”.

Isabel Germano, internista do CHULC e coordenadora da consulta de imunodeficiência, focou na sua intervenção que numa era em que a longevidade das pessoas que vivem com VIH se aproxima da população em geral, “as comorbilidades e doenças de órgão são naturalmente um foco de atenção primária e um desafio para os clínicos que se dedicam a esta patologia”, destacando em seguida o campo das neoplasias:

“Desde os primórdios da doença VIH que se reconheceu a elevada prevalência de determinadas neoplasias nestes doentes. Mais tarde, com o desenvolvimento da terapêutica antiretrovírica, que torna esta doença fatal numa doença crónica, assistiu-se a um declínio destas neoplasias e ao aumento de outros tumores, percebendo-se que a doença oncológica tem uma prevalência desproporcionalmente elevada nestes doentes, com destaque para o linfoma de hodgkin, a neoplasia do pulmão, o carcinoma hepatocelular e o carcinoma do canal anal”.

Já Fernando Maltez, coordenador da Unidade Funcional do VIH/SIDA do CHULC, lembrou que “a terapêutica antiretrovírica marcou de forma vincada o curso desta doença, mas o tratamento continua a ser para toda a vida”.

“Este tratamento traz um conjunto de objetivos, mas também um conjunto de desafios onde certamente estão as suas comorbilidades”, alertou.

Também presente na sessão de abertura desta reunião, António Panarra, responsável da especialidade de Medicina Interna do CHULC, recordou que a medicina interna é uma especialidade de grande relevância em todo o percurso do VIH.

“Se historicamente essa ligação é importante, o desenvolvimento a que temos assistido nas últimas décadas faz com que nas novas abordagens a Medicina Interna tenha um papel bastante importante.”

Tiago Lopes, presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACES Lisboa Central, colocou a tónica na necessidade de articulação entre espacialidades, sublinhando que os cuidados de saúde primários são aliados importantes no campo do diagnóstico e referenciação.

Por último, Paulo Coelho, diretor clínico adjunto do Hospital do São José desejou que em breve o VIH tenha cura, mas expressou o empenho em manter o foco no trabalho ao cuidado ao doente com VIH até esse dia.

No ciclo de reuniões temáticas promovido pelo NEDVIH, além da doença neoplásica, foram abordados temas tão diversos como a patologia pulmonar, renal, cardiovascular, metabólica e doença mental e neurocognitiva.

(28/11/2019)