Acidente Vascular Cerebral – Como podemos melhorar?

Nos últimos 25 anos assistimos a um progresso considerável no tratamento dos doentes com Acidente Vascular Cerebral (AVC): a organização de Via Verde AVC(VVAVC) extra e intra-hospitalar, o proliferar de Unidades de AVC, a terapêutica de reperfusão na fase aguda (trombólise e trombectomia), o desenvolvimento de métodos de imagem e o avanço nas técnicas e centros de reabilitação. O nosso País acompanhou esta evolução, no entanto, ainda existe margem para melhorar.

O AVC é uma emergência médica, sendo atualmente a principal causa de morte e incapacidade permanente em Portugal. A cada hora 3 portugueses sofrem um acidente Vascular Cerebral, um deles não sobrevive, e metade dos sobreviventes ficarão com sequelas incapacitantes.

O que podemos melhorar?

Em primeiro lugar devemos PREVENIR! O AVC pode ser evitado em cerca de 80% dos casos. Temos de prevenir um primeiro evento, mas também evitar a recorrência. Existem fatores determinantes como a genética, a idade ou o género, que não são passíveis de ser alterados, mas controlar a pressão arterial, tratar a diabetes e a dislipidemia; adotar uma alimentação adequada, pobre em gorduras e sal; praticar exercício físico regularmente; não fumar(fumar duplica o risco de ter um AVC), nem consumir bebidas alcoólicas, são  formas de reduzir o risco de sofrer um AVC. Em muitos casos, a alteração dos hábitos do dia-a-dia não é suficiente, sendo obrigatório iniciar terapêutica farmacológica para correção dos fatores de risco. Em todas as situações em que existe patologia associada deve ser feito seguimento regular em consulta, seguindo as orientações do médico assistente.

É também importante promover a EDUCAÇÃO DA POPULAÇÃO, no sentido de ser capaz de reconhecer os sinais de alarme. Temos de alertar para o facto de o AVC ser uma situação potencialmente ameaçadora de vida, uma verdadeira emergência médica e, fundamentalmente, da necessidade de intervenção precoce. Entre os sintomas mais frequentes salienta-se um conjunto de manifestações comumente conhecido pelos “5 F’s”. São eles: a Face descaída, dando uma sensação de assimetria do rosto; a diminuição da Força num braço (acompanhada ou não de diminuição de força na perna); a dificuldade na Fala, dificuldade em ter qualquer tipo de discurso, fala arrastada ou existência de discurso pouco compreensível e sem sentido; a Falta súbita de visão, alteração da visão ou diminuição abrupta num ou em ambos os olhos ou visão dupla; e a Forte dor de cabeça, dor de cabeça muito intensa e diferente do habitual. Sempre que estes sinais surgirem, deve ser contactado o 112, que disponibilizará os meios de auxílio específicos, ao acionar a VVAVC, para transportar o doente ao hospital com capacidade para proporcionar o tratamento adequado, no mais curto espaço de tempo.

Depois da ativação da VVAVC é importante o TRATAMENTO, adaptado a cada situação, de acordo com tipo de AVC. Nesta fase, a organização do sistema de seleção e referenciação para terapêutica endovascular é determinante. Temos que garantir o acesso ao tratamento ao maior número de doentes possível, diminuir as assimetrias que se verificam ao nível das várias regiões (os grandes centros têm o acesso mais facilitado) e otimizar a disponibilidade de meios (a nível de equipamento e recursos humanos). Assim, além da adequada gestão dos recursos disponíveis é fulcral garantir o investimento adequado.

Por fim, é imprescindível não descurar a REABILITAÇÃO, aumentando a referenciação e a disponibilidade de unidades diferenciadas. A reabilitação assume um papel preponderante a vários níveis:  recuperação funcional, cognitiva e psicossocial; integração social; melhoria de qualidade de vida; manutenção de atividade e grau de independência.

São assim prioritárias campanhas de informação e formação à população, além da intervenção das entidades públicas no sentido de priorizar o investimento para a abordagem desta devastadora patologia.

Luísa Fonseca

Coordenadora Unidade AVC Centro Hospitalar Universitário S. João

Coordenadora do Núcleo de Estudos da Doença Vascular Cerebral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna