65.º aniversário da SPMI: Medicina Interna portuguesa «soube preservar caráter generalista» da especialidade
Passaram-se 65 anos desde que foi criada a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna. Para assinalar o aniversário, teve lugar uma sessão solene na qual o presidente da SPMI, Luís Campos, destacou que a Medicina Interna em Portugal está numa situação privilegiada no contexto europeu, dado que “soube preservar o caráter generalista” da especialidade.
Segundo o presidente da SPMI, ao contrário dos países da Europa Central e do Norte, que optaram pela dupla titulação e onde a maior parte dos internistas tem uma subespecialidade médica, Portugal não o fez.
O evento decorreu na Sala de Atos da Faculdade de Ciências Médicas em Lisboa e teve como anfitrião Miguel Xavier, subdiretor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Lisboa. Foi neste mesmo local que se realizou a histórica sessão inaugural da SPMI, quando foi eleita a primeira lista para a Direção da Sociedade.
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, foi um dos convidados da sessão, tendo manifestado o seu desejo de que “os próximos anos sejam de grande crescimento para a Medicina Interna no nosso país, para o bem de todos, para o bem do nosso sistema de saúde, seja qual for o modelo de gestão e, sobretudo, para bem dos doentes”.
Coube ao secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, representar o ministro da Saúde no evento. Dirigindo-se à audiência, onde estavam alguns dos antigos presidentes da SPMI, aquele responsável destacou que a Medicina Interna, pela sua perspetiva holística, e em termos de gestão de organização médica dos hospitais, tem uma capacidade de se relacionar com a componente que está do outro lado da “porta”: a Medicina Geral e Familiar. Esta é, na sua opinião, uma posição privilegiada, porque possibilita entender melhor “o que está do outro lado do hospital”.
Seguiu-se, depois, uma conferência intitulada “O maestro e a orquestra”, proferida pelo Rui Massena, na qual foi feito um paralelismo entre o trabalho do maestro na orquestra e do internista no hospital.
Portugal precisa de mais internistas
Segundo Luís Campos, “Portugal é o segundo país da OCDE com melhor ratio entre as especialidades generalistas e as outras, sendo a Medicina Interna a mais numerosa nos hospitais do SNS”.
Na sua opinião, “os internistas, em Portugal, têm capacidade para abordar todas as doenças médicas dos adultos, seja nos serviços de urgência, nas enfermarias ou no ambulatório, podem tratar a maioria destas doenças, decidir quando necessitam da cooperação de outras especialidades ou em que circunstâncias devem referenciar os doentes para diferentes áreas médicas”.
Além disso, acrescenta, “têm capacidade para abordar os doentes sem diagnóstico e tratar as doenças sistémicas e os doentes com multimorbilidade”.
Mas, de acordo com aquele responsável, não bastam os 1000 internos que em Portugal estão em formação. “A necessidade da Medicina Interna tem crescido de forma mais acelerada do que a formação de internistas. A Medicina Interna é a especialidade mais carenciada no SNS, como o provou o recente mapa de vagas para carenciados que os hospitais enviaram”, justificou.
SPMI quer investir fortemente na formação
Luís Campos salientou que uma das principais funções da SPMI é “ajudar os decisores a tomar boas decisões”. Neste campo, a SPMI pretende investir fortemente na formação dos internos, através de cursos presencias, webinars e e-learning. “Estamos a criar condições para alavancar esta atividade, com a possibilidade mesmo de a expandirmos aos oito países de língua oficial portuguesa, o que se traduz num universo de 250 milhões de pessoas”, adiantou.
O presidente da SPMI considera que é também necessário adaptar o internato, “tornando-o mais flexível, para permitir um equilíbrio entre a manutenção da nossa capacidade generalista, que é a nossa grande mais-valia, com o desenvolvimento de competências”.
Na sua ótica, é ainda preciso diversificar os critérios de progressão na carreira para não prejudicar a diversidade dos perfis de internistas que a Medicina Interna tem de estimular para fazer face à diversidade de modelos de cuidados e de ambientes onde está envolvida.
Por outro lado, “o papel dos diretores de serviço é fundamental, para saberem integrar nos seus serviços estas diferentes expressões fenotípicas de ser internista, para mobilizarem as equipas para estes novos desafios e para convencerem as administrações das suas vantagens e da necessidade de reforçar a capacidade dos serviços com o recrutamento de mais internistas”.
A SPMI está também empenhada na promoção da saúde, na prevenção da doença e na capacitação dos doentes para tomarem cada vez mais conta da sua saúde. “É sabido que os cuidados de saúde determinam 10% da saúde das pessoas e os comportamentos de risco cerca de 40%”, apontou.
(27/12/2016)