Tarde do Jovem Internista

Jovens internistas debatem aptidões não clínicas

“Se há algo que não mudou na Medicina, ao longo dos séculos, é a importância nuclear da comunicação e o estabelecimento de uma boa relação com os utentes e com os outros profissionais”, afirmou Pedro Morgado, vice-presidente da Escola de Medicina da Universidade do Minho, que fez a comunicação “Aptidões não clínicas: comunicação e gestão de conflito”, na sessão a ““Tarde do jovem internista”, que decorreu durante a tarde de sábado, salientando que se trata de competências essenciais na formação de qualquer médico e, muito em particular dos de Medicina Interna.

Justificando, assim, a pertinência do tema no âmbito da sessão da Tarde do Jovem Internista, Pedro Morgado teve, com a sua intervenção, o objetivo de levar os jovens médicos a refletir sobre as formas de comunicar e de gerir situações difíceis, em que o conflito está presente.

“A Medicina é uma área onde a relação interpessoal é fundamental, estamos sempre a relacionar-nos – com os utentes, com os colegas, médicos e outros profissionais de saúde. Nas relações interpessoais é normal que, por vezes, surjam conflitos. Aprender a geri-los no contexto da profissão médica e a encontrar vias de consenso e respostas gratificantes para todas as partes é muito importante para a nossa prática clínica diária”, concluiu.

Emídio Carreiro, pediatra e diretor do Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Porto, que falou sobre o tema “Comportamento não verbal na entrevista com o doente”. O orador começou por afirmar, citando Abel Salazar, que “o médico que só sabe Medicina, nem Medicina sabe” e por lembrar que o termo “Medicina” tem origem no Latim “ars medicinae” e que significa “arte da Medicina”.

“A Medicina é, sem dúvida, uma arte, em que se deve saber aplicar todos os extraordinários conhecimentos científicos que vamos adquirindo. Como nenhum médico nega, a entrevista com o doente é a base de todo o desenrolar da prática clínica. Se assim é, devemo-nos concentrar numa forma correta de atuar durante este precioso momento”, esclareceu Emídio Carreiro.

E sublinhou: “O nosso comportamento e o do doente tem uma enorme influência no desenrolar da relação médico-doente, devendo ser pensado e adaptado a ‘cada doente e a cada doença’”.

Segundo o orador, o uso das “poderosas ferramentas de comunicação não verbal”, como a expressão facial, os gestos, a aparência, a háptica, a proxémia, entre outras, vai conduzir a uma verdadeira prática da arte médica, permitindo, durante a entrevista/consulta, inferir o que o doente sente e pensa e tornando, assim, possível orientar a entrevista com o doente de uma forma verdadeiramente empática. “Este desenvolvimento possibilita perceber os

momentos oportunos e a melhor forma de comunicar as nossas decisões/orientações”, concluiu.

Ana Folhadela, jurista da Ordem dos Médicos, trouxe para cima da mesa o tema “Regulamento Geral de Proteção de Dados: o que muda na clínica e investigação”. Tal como referiu, com início a 25 de maio de 2018, o RGPD trouxe para a área da saúde uma regulamentação igual e comum aos países da União Europeia, salvaguardando algumas especificidades que os estados membros podem regulamentar internamente e conferindo uma proteção reforçada por um quadro de contraordenações, com multas de valor elevado, que desincentivam o desrespeito pelas regras instituídas.

A advogada destacou a “consagração expressa do princípio da minimização o tratamento dos dados pessoais, a necessidade de obtenção do consentimento do menor de 13 anos, o direito à portabilidade dos dados e o direito ao esquecimento.

“Importante foi a visibilidade e a sensibilização que o RGPD provocou nos profissionais de saúde em geral e, em especial, nos médicos, embora para a Medicina Interna não haja, nesta matéria, especificidades a salientar face a outras especialidades médicas”, observou Ana Folhadela.

E concluiu: “A informação de saúde, tratada desde sempre no Código Deontológico da Ordem dos Médicos e, atualmente também no seu Estatuto – Lei 117/2015, e, desde 2005, na Lei 12/2005 – Lei da Informação de Saúde, passou a ser uma preocupação mais presente no dia-a-dia dos médicos e das instituições de saúde.”

A “Tarde do jovem internista” foi moderada por António Novais, coordenador do NIMI.