SPMI reuniu diretores para incentivar a prática de uma Medicina de alto valor

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), escolheu a cidade de Aveiro para mais uma Reunião de Diretores de Serviço e Orientadores de Formação. O tema escolhido para o encontro foi “Medicina Interna de Alto Valor e o novo Programa de Formação” e nele participaram Diretores e Orientadores de Formação de Serviços de Medicina Interna de todo o país.

Na intervenção inicial desta reunião, o Presidente da SPMI recordou a importância destas reuniões anuais, que se tornaram regulares desde 2014, e que abordaram temas muito relevantes, como a diferenciação dento da Medicina Interna, a formação em MI, a inovação na prestação de cuidados e as novas formas do exercício da MI.

João Araújo Correia, presidente da SPMI

“É muito importante manter a realização desta reunião, pois o prestígio da nossa especialidade tem crescido à custa do desenvolvimento da SPMI, do reconhecimento que é prestado ao nosso Colégio de Especialidade”, começou por dizer João Araújo Correia, que salientou que “os serviços de Medicina Interna é que são os bastiões da formação e da qualidade assistencial”.

“Sem precisarmos de nos impor junto dos doentes, paulatinamente, vamos colhendo a sua preferência. Hoje os doentes sentem-se seguros connosco e sabem que são tratados com segurança e competência”, sublinhou.

O Presidente da SPMI afirmou em seguida que cabe aos internistas conhecerem as suas mais valias e incentivou a que não se percam os valores fundamentais da especialidade.

“Se soubermos aquilo em que somos bons poderemos contribuir para uma medicina de alto valor. Há novos campos que temos de redescobrir e outros que não podemos perder, pois são valores essenciais da prática da medicina”, disse, adiantando quais:

“A plasticidade, que nos dá a capacidade de nos adaptarmos às necessidades da instituição, a manutenção do nosso perfil generalista, que nos permite assumir a gestão global do doente, assegurar o exercício clínico de alta qualidade, baseado no melhor conhecimento médico atual, não esquecendo o valor da realização de auditorias clínicas, assim como priorizar a segurança do doente e saber aliar a prática clínica à investigação.”

Vasco Barreto e João Araújo Correia

João Araújo Correia adiantou ainda que “há novos desafios para a Medicina Interna que talvez sejam oportunidades”

“A decisão clínica compartilhada com o utente, para que se possa decidir em consciência pela melhor decisão terapêutica, a prática de uma medicina personalizada e uma análise obrigatória do custo-beneficio dos tratamentos, pois essa é uma grande vantagem da Medicina Interna: tratar melhor e gastar menos. Por último”, concluiu, “devemos ter presente que a medicina digital é importante mas não deve fazer-nos perder o rumo”.

Na 1.ª Conferência “O valor da prática clínica”, Jordi Varela afirmou que “muitos internistas dedicam-se a doenças sistémicas, raras, e perderam a essência generalista. No entanto, essa é a vertente que cada vez é mais necessária perante os pacientes que temos: idosos, com várias morbilidades”, sublinhou o médico espanhol.

“Os especialistas de hoje são muito maus para ver estes doentes, pois não têm uma visão integrada do doente. Por isso devem ser os internistas o motor deste processo e o centro do sistema. O internista tem de ser o quarterback do hospital onde trabalha. Se assim não for, o doente complexo, cada vez que vai ao hospital, corre o risco de ir a um serviço diferente!”

O antigo Secretário de Estado da Saúde Manuel Delgado dissertou sobre “A importância de medir a qualidade e a produção em saúde” e, antes de se debruçar sobre o tema, reconheceu que a Medicina Interna é uma especialidade pivot em todo o sistema de saúde.

Manuel Delgado, João Araújo Correia e Jordi Varela

“É a única especialidade que tem uma visão sistémica do doente em todas as suas facetas e, portanto, é fundamental na integração de cuidados, que é uma aposta que vai ter que ser feita”, afirmou o antigo governante.

“A política de saúde tem de ter em conta a sustentabilidade, a inovação e a responsabilização das pessoas e dos Serviços pelos recursos que são disponibilizados. Por isso, é importante medir a produção, que se traduz em informação, mas só há conhecimento com o benchmarking, pelo qual os dados se “expurgam” das diferenças entre os hospitais e o grau de gravidade dos doentes.”

Alexandra Bayão Horta lembrou as metas internacionais de segurança, que são da responsabilidade mais direta dos Internistas: assegurar uma comunicação eficaz na equipa (informação hand-over) e contribuir para a redução do risco de infeção e de quedas dos doentes.

Carlos Capela lembrou que a melhor forma de convencer a administração hospitalar de que a investigação é uma mais valia é fazê-la, referindo que “quando se faz, comprova-se que há uma melhoria na performance assistencial e uma visibilidade maior para o exterior”.

Já José Delgado Alves, deu o exemplo do seu Serviço para comprovar que é possível fazer investigação e manter a qualidade assistencial. Não deixou de dizer, que “é muito importante fazer com que o Diretor de Serviço possa escolher a sua equipa”, o que foi possível no seu caso, mas que se trata de algo que é posto em causa pelos “concursos” atuais. Sublinhou ainda que “é a maneira de pensar que distingue o Internista dos outros especialistas!”

À tarde, ainda com sala cheia, Pedro Cunha, do Colégio de Especialidade de MI, deu notícia das novidades do novo Programa de Formação aprovado a 31 de Outubro de 2018. Recebeu dos presentes o aplauso geral por o Colégio ter sabido acolher a maior parte das opiniões que foram sendo dadas em vários fóruns, durante cerca de dois anos. Ficou a promessa de que, com a colaboração de todos, principalmente dos Núcleos de Estudo, viessem a ser publicados em anexo os objetivos de formação e competências a adquirir nos vários estágios opcionais.

(12/11/2018)