SPMI presente na apresentação do 3.º Barómetro de Internamentos Sociais
A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) esteve presente na Conferência de Valor Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) “Modelos de Gestão da Qualidade e Melhoria Contínua”, que decorreu em Peniche, e onde foram apresentados os resultados finais do 3.º Barómetro de Internamentos Sociais.
A iniciativa da APAH, em parceria com a SPMI, analisou os casos de internamento que têm na sua base razões sociais e Alexandre Lourenço, presidente da APAH, revelou que os dados apurados indicam uma continuidade face às duas anteriores edições, o que, sublinhou, “denota que não tem havido uma evolução positiva e não têm existido grandes mudanças, como seria de esperar com o alerta lançado por este barómetro”.
Alexandre Lourenço, presidente da APAH
Quanto aos números apurados, Alexandre Lourenço destacou que com base na resposta de 79% dos hospitais nacionais, foram registados 17 mil internamentos, 829 dos quais inapropriados, ou seja, 4,7% de todos os internamentos, correspondendo a 81.571 dias (+24% do que no 2.º BIS).
“Houve um aumento do número de dias de internamento inapropriado, que nesta edição do barómetro quase atinge os 100 dias, com alguns casos a atingirem os oito meses”, afirmou o presidente da APAH, que avançou que Lisboa e Vale do Tejo é a região com maior índice de internamentos inapropriados.
“A maior parte destes internamentos inapropriados, são doentes médicos, com mais de 65 anos, e 56% são nos Serviços de Medicina Interna. A falta de resposta da rede de cuidados continuados, da família ou as causas de índole social, ocupam o top 3 das causas, podendo extrapolar-se haver cerca de 83 milhões de euros de desperdício”, concluiu.
Medicina Interna está no “olho do furacão”
“A Medicina Interna é uma parte central desta questão porque grande parte dos internamentos inapropriados reside nos serviços de Medicina. Cerca de 56% dos internamentos inapropriados acontecem nos nossos serviços”, começou por dizer João Araújo Correia, presidente da SPMI, lembrando que a Medicina Interna é a maior especialidade hospitalar em Portugal e alberga a maior parte das camas do SNS.
João Araújo Correia, presidente da SPMI
“A totalidade dos serviços de Medicina Interna do país têm, em média, 25% da sua lotação ocupada com doentes com alta clínica. É assim, porque a colocação na rede de cuidados continuados demora em média dois meses do país e num lar da Segurança Social nunca menos de seis meses. Com esta realidade temos de chegar à conclusão de que os resultados deste barómetro não podiam ser outros”, disse o presidente da SPMI, que de seguida mostrou os resultados de um inquérito, que a SPMI promoveu junto dos Serviço de Medicina de todo o país, no dia 18 de Fevereiro de 2019.
“Responderam 76% dos serviços de Medicina e todos tinham uma taxa de ocupação de 100%, num total de 4866 camas. Mas, neste dia, para além da sua lotação, os Serviços de Medicina Interna tinham à sua responsabilidade mais 2142 camas, o que corresponde a um acréscimo de mais 44% de doentes. É um esforço extraordinário de trabalho, a que os internistas estão sujeitos nunca menos de três meses por ano e para o qual tem de ser encontrada uma solução justa, pois existe uma verdadeira produção adicional”, alertou João Araújo Correia.
Destas camas extra, 1140 doentes encontravam-se internados noutros Serviços do Hospital, 841 doentes internados no Serviço de Urgência e 161 doentes nos Serviços de Medicina, acrescentados à sua lotação habitual. É particularmente revelador o enorme número de doentes internados no Serviço de Urgência (841), que tem sido um motivo fulcral das demissões das chefias das urgências.
Depois, naquilo a que o presidente da SPMI chamou de “paradigma da incongruência”, verificou-se que nesse mesmo dia havia registo de 847 doentes internados com alta clínica (17,4%), 448 a aguardar colocação na RNCC, 53 nos Cuidados Paliativos e 346 à espera de lar da Segurança Social, cujo tempo de resposta ultrapassa os 6 meses.
“Por isso, o problema maior está na Segurança Social, que tem de ser financiada para poder dar as respostas condizentes com as necessidades. O que o barómetro faz é obrigar à discussão deste problema e à procura de soluções. É nesta perspetiva construtiva que a SPMI quer fazer parte desta equação, na construção de um SNS para todos, equilibrado, igual em todas as regiões do país e pautado por uma gestão eficiente”, concluiu.
Numa sessão dedicada à “Melhoria contínua da Qualidade”, Luís Campos, anterior presidente da SPMI, fez uma avaliação da situação nacional e começou por destacar pela negativa a “pouca cultura de avaliação e planeamento em relação às mudanças que implementamos”.
“Devíamos ter uma estratégia de melhoria da qualidade como prioridade”, disse o diretor do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental, que em seguida identificou três áreas problemáticas: prevenção, segurança e variabilidade de cuidados.
“Temos um sistema esquizofrénico. Tomamos opções erradas e temos centros hospitalares mal organizados e labirínticos. O nosso modelo está constituído em silos e é inadequado para os doentes que temos de tratar, idosos, com múltiplas patologias. Apostar na medicina ambulatória e na integração de cuidados, juntando a parte social e de saúde, é a única forma de deixarmos de prestar cuidados de forma episódica e fragmentada para passarmos para uma gestão integrada do doente”, terminou.
APAH e SPMI assinam protocolo de colaboração
À margem deste evento, a APAH e a SPMI aproveitaram a ocasião para proceder à assinatura formal de um protocolo de cooperação, que irá promover o estudo e discussão de temas na área da saúde, da qualidade à gestão, com o objetivo de alcançar um Sistema de Saúde cada vez mais eficiente e seguro.
João Araújo Correia, da SPMI, e Alexandre Lourenço e Victor Herdeiro, da APAH
(08/04/2019)