SPMI marcou presença nas Conferências de Valor APAH para realçar importância da Medicina Interna

A apresentação dos resultados do 2.º Barómetro de Internamentos Sociais foi um dos momentos mais marcantes de mais uma edição das Conferências de Valor da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH). Esta edição, subordinada ao tema “Modelos de Gestão de Acesso à Urgência e Continuidade de Cuidados”, teve lugar em Viseu, nos dias 16 e 17 de março, e contou com a participação da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) através do seu presidente, Luís Campos, que vincou o papel crescente da especialidade no seio da realidade hospitalar.

Alexandre Lourenço, presidente da APAH, deu então a conhecer os dados recentemente apurados do Barómetro de Internamentos Sociais, também denominados de internamentos inapropriados, deixando a nu algumas das debilidades que no dia a dia afetam o SNS.

“Detetámos 6% de internamentos inapropriados, o que em 37 hospitais significam 960 doentes que aguardavam resposta extra hospitalar. O doente em média esperou cerca de 67 dias para ter uma resposta, com as consequências de perda de funcionalidade, risco de infeções ou outras intercorrências que isso acarreta. O mais grave foi mesmo o caso de um doente que esperou 213 dias por uma resposta”, revelou o presidente da APAH, avançando que a região de LVT é a que tem maior número de dias de internamento.

“Temos essencialmente internamentos médicos (72%) e o serviço com maior peso é o de Medicina Interna, com cerca de 50% do total dos internamentos. Sabemos também que a maioria dos doentes que aguardava resposta extra hospitalar era do sexo feminino e o peso da idade é evidente, com 85% dos doentes com mais de 65 anos. É pois evidente que há um peso grande do envelhecimento”, assumiu Alexandre Lourenço, que a terminar deu a conhecer o que estes dados significam em termos de custos:

“O custo dos internamentos inapropriados num dia chega aos 18 milhões de euros (ME) nos hospitais gerais. Custos que se forem extrapolados para um ano poderão chegar perto dos 100ME. E as causas são sobretudo o grande peso dos doentes a aguardar respostas dos cuidados continuados, a demora nas respostas e a incapacidade de resposta familiar e de cuidadores”, concluiu.

Medicina Interna está no centro do Silver Tsunami

Luís Campos, presidente da SPMI, esteve presente em Viseu em representação da Medicina Interna e, depois de ilustrar os números do Barómetro de Internamentos Sociais com casos reais, aprofundou as causas da realidade que hoje se vive nos hospitais.

“Assistimos nos últimos anos a uma multiplicidade de mudanças sociológicas. Uma delas é o aumento da esperança média de vida, com uma clara inversão da pirâmide etária”, sublinhou o também Diretor do Serviço de Medicina Interna do HSFX, que lembrou que as projeções demográficas apontam para que em 2050 sejamos o terceiro país da OCDE com mais idosos.

“Há 17 anos tínhamos 100 idosos por cada 100 jovens, atualmente são já 150, e dentro de 30 anos serão 300 idosos para cada 100 jovens. Idosos a viver sozinhos e na companhia de outros idosos, apenas com 6,2 anos de anos de vida saudável depois dos 65 anos, 45% deles com algum tipo de incapacidade, e em que 6 em cada 10 acabam por morrer nos hospitais”, disse Luís Campos, que deu ainda a conhecer a realidade do seu serviço:

“Os nossos hospitais foram invadidos por uma população idosa, debilitada e com multimorbilidades. Um silver tsunami. A idade média de internamento é de 76 anos e do meu serviço os doentes saem em média com 11 diagnósticos. A realidade é que os centros de Medicina estão transformados em centros de resolução dos problemas sociais dos doentes, consumido os nossos recursos e energia.”

Perante uma plateia em que estava a secretária de Estado da Saúde, Rosa Matos Zorrinho, o presidente da SPMI apontou a falta de reposta dos cuidados continuados, dos cuidados paliativos, da segurança social, das misericórdias e do Ministério Público como causas para este cenário, deixando um alerta:

“Isto significa desperdício no sistema de saúde. Obriga-nos a gastar tempo que deveria ser para cuidar os doentes, tira-nos camas dos serviços e ilustra o défice de planeamento no Ministério da Saúde. É um problema de elevada complexidade, mas globalmente há duas áreas em que temos de mudar: investir mais em cuidados de longo termo e integrar saúde e segurança social. Há muito por fazer, não há soluções milagrosas, mas não nos é possível não fazer nada, pois este é um problema que ameaça colapsar o SNS”, terminou.

(20/03/2018)