Sessão de abertura do 24.º CNMI deixou linhas programáticas para o futuro

O 24.º Congresso Nacional de Medicina Interna arrancou oficialmente com a realização da sua Sessão de Abertura que, além de dar a conhecer os temas que vão marcar os próximos dias de reunião, deixou também mensagens fortes para o futuro da Medicina Interna.

Depois de um vídeo inicial em que ficou evidente o papel da Medicina Interna no SNS, Luís Campos relembrou os problemas que este enfrenta e vincou que o caminho que necessita de ser feito tem obrigatoriamente de contar com a colaboração e orientação dos internistas.

“Hoje temos dois milhões de idosos, em 2050 serão 3,5 milhões. A evolução demográfica é imparável, assim como a evolução do conhecimento científico, que se calcula que duplique a cada 13 meses. Há também ameaças à sustentabilidade do sistema, sobretudo com o aumento do custo dos medicamentos. É necessário introduzir racionalidade no sistema, sobretudo através de escolhas que sejam custo-efetivas e combate ao desperdício”, disse o presidente da SPMI, que adiantou que os hospitais têm de mudar para um paradigma de departamentos de medicina geridos por internistas e implementação de unidades diferenciadas, não esquecendo uma melhor utilização dos hospitais de dia e de uma política de cuidados continuados. A integração entre os vários níveis de cuidados que retirem os doentes das urgências e a resposta aos doentes agudos e implementação dos cuidados paliativos foi também referida por Luís Campos, que frisou que “a Medicina interna é nuclear no funcionamento do SNS”.

“Temos mais de 2600 internistas inscritos na Ordem dos Médicos e 1700 trabalham no SNS, cerca de 8,6% do total. A Medicina Interna foi responsável em 2017 por 85% dos internamentos por pneumonia, 81% por IC, 70% por AVC, 80% de DPOC e 82% de internamento por Lúpus, com uma taxa de ocupação nos últimos anos entre 102 e 130%. Somos muitos e bons, mas necessitamos de ser mais e melhores, e certamente melhor recompensados”, afirmou, deixando ainda uma mensagem clara à secretária de Estado da Saúde Rosa Matos.

“Os decisores políticos não têm ainda consciência das vantagens de terem em Portugal uma Medicina Interna tão pujante e internistas com tanta qualidade. A nossa dedicação, capacidade de trabalho, competência, sentido de missão, compromisso com os doentes e sentido de ética tem evitado ruturas mais graves no contexto de penúria e de centralismo financeiro que julgávamos ter acabado com a partida da troika, mas que na Saúde se tem mantido da mesma maneira nos dias de hoje. Estamos preparados para os desafios do futuro, mas os decisores têm de se consciencializar sobre quais são os desafios que têm pela frente.”

A concluir, Luís Campos despediu-se da presidência da SPMI depois de um mandato de dois anos e foi aplaudido de pé por toda a sala.

“Foi uma honra ter presidido a esta sociedade com esta equipa fantástica. Deixamos a SPMI mais forte, mais operacional e de imagem renovada. Não fizemos tudo, mas fizemos certamente coisas importantes. Desejo à futura direção e ao seu presidente todas as felicidades”, finalizou.

Internistas 100 margens

Estevão de Pape, presidente do 24.ª CNMI, proferiu também algumas palavras nesta sessão de abertura, garantindo que no que depender dos internistas, os doentes podem estar descansados quanto à qualidade dos cuidados de saúde que recebem no SNS.

“Na Medicina Interna não temos limites e o SNS não será um deserto porque a nossa dedicação e trabalho não conhece mesmo limites.”

Em “resposta” às intervenções anteriores, a Secretária de Estado da Saúde Rosa Matos admitiu que o SNS é uma organização complexa, desde logo pela sua dimensão, e reconheceu que são necessárias mudanças.

“Vivemos numa sociedade em processo de grande transformação e temos de ser capazes de procurar novas receitas para os desafios presentes e futuros. Temos de definir o nosso rumo e definir o destino. A Medicina Interna é fundamental nesse percurso”, garantiu, adiantando que, tal como os internistas, defende um rumo de integração.

“Partilhamos dessa visão de circularmos à volta do doente com equipas bem preparadas e não promoveremos qualquer tipo de segregação.”

Numa sessão em que estiveram também presentes Rubina Correia, em representação da Ordem dos Médicos, e Xavier Corbella, Secretário Geral da European Federation of Internal Medicine, a última palavra coube ao Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, que não podendo estar presente, gravou uma mensagem em que elogiou os especialistas de Medicina Interna.

“Refletir sobre a vossa missão é refletir sobre o que somos, e fazê-lo sem margens é o mais indicado na visão que precisamos para o SNS. Normalmente vamos pensando e gerindo em função do dia a dia, mas não é essa a vossa perspetiva e por isso vos louvo, assim como pelo vosso serviço prestado a Portugal.”

Prémio Nacional de Medicina Interna distinguiu Armando Porto

O internista Armando Porto foi distinguido pela SPMI com o Prémio Nacional de Medicina Interna 2018. O médico internista e professor reconheceu que aos 82 anos recebeu esta distinção com redobrada alegria.

“É motivo de júbilo receber este prémio, sobretudo por poder agradecer publicamente o que a Medicina Interna me facultou. Assisti ao renascimento da Medicina Interna e depois desse trabalho e de volvidos tantos anos posso dizer que somos um grupo profissional imprescindível para a saúde de todos os portugueses, porque somos homens e mulheres de bem que exercem a arte de curar.”

(02/06/18)