Reunião dos Diretores e Orientadores de Formação: tornar a MI mais visível e melhor organizada

A Reunião dos Diretores e Orientadores de Formação, que se realizou a 12 de novembro em Peniche, teve como mote “Repensar a Medicina Interna na Atualidade”.

“Os objetivos principais foram conseguir identificar problemas e fazer propostas que possam tornar a Medicina Interna (MI) mais visível e cada vez melhor organizada e, por outro lado, também mais atrativa para os jovens médicos sempre na senda de uma formação de qualidade e de grande competência”, disse Lèlita Santos, presidente da SPMI.

“Esta reunião realiza-se desde 2016, sempre em colaboração com o Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos. Trata-se uma reunião em que, sobre um ou dois temas gerais, se abre uma discussão informal entre todos os participantes. Quanto a nós, direção da SPMI, é um fórum de grande interesse, porque junta os diretores dos serviços de Medicina Interna de todo o país e os orientadores de formação, que discutem os pontos fortes e os pontos fracos dos temas propostos, habitualmente assuntos estruturantes e organizativos dos serviços e, por fim, propõem soluções”, explicou a presidente, enumerando os temas principais deste ano: o subdimensionamento dos serviços de Medicina Interna e implicações para as estratégias clínicas de abordagem integrada dos pacientes, as propostas de repopulação dos serviços de Medicina Interna, o processo de avaliação do internato em Medicina Interna e do grau de consultor, como alterar um serviço para estimular a produção científica, e, por fim, da seleção à avaliação dos orientadores de formação.

“Este ano os temas são muito atuais, mas as conclusões e a sua implementação serão o nosso objetivo e, simultaneamente, o nosso desafio para o futuro”, finalizou.

Também Arsénio Santos, do Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos (CEMI), considerou que esta foi uma “oportunidade para os internistas refletirem e criarem consensos em matérias essenciais para o presente e futuro da especialidade: as necessidades de recursos humanos, as carreiras médicas, a investigação científica e a formação de novos especialistas. Apesar de ser um momento de crise e de grandes dificuldades, não podemos deixar de o fazer, pois é fundamental inovar e criar as condições para que os internistas prestem mais e melhores cuidados de saúde”. Acerca da sua participação na reunião, com o tema “O processo de avaliação do Grau do consultor”, considerou que a principal mensagem que quis passar foi a de que é importante, dentro da especialidade, “atualizar critérios e redefinir os objetivos requeridos neste processo de avaliação, reforçando a sua importância, num momento em que se impõe que se volte a dignificar e a valorizar a carreira médica. A desvalorização das carreiras médicas que foi praticada nas duas últimas décadas conduziu a uma marcada desestruturação das equipas médicas, prejudicou a organização dos serviços e a qualidade da prática clínica. Há que inverter este caminho”.

Em concordância, Jorge Almeida, diretor do serviço de Medicina Interna do CHUSJ e  membro da direção do CEMI, acerca do tema “Avaliação do internato da formação especializada em Medicina Interna”, referiu que os “objetivos da palestra, em termos genéricos, foram explicitar os motivos que presidem à necessária e urgente alteração na metodologia de avaliação do final do IFE Medicina Interna, os condicionantes legais que impedem essa alteração e o trabalho efetuado pelo CEMI, com a colaboração da direção da SPMI e de todos os internistas para que esse objetivo seja atingido”.

“A mensagem que se pretendeu passar aos presentes, foi que de forma faseada se poderá dar início (nos próximos seis meses) a algumas alterações estruturais, de modo a minimizar as consequências nefastas e unanimemente reconhecidas do atual sistema de avaliação. Assim foram propostas e discutidas as alterações que poderemos, numa primeira fase, implementar”, explicou.

Joana Pimenta, diretora do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia-Espinho, sobre o tema “Como alterar um serviço para estimular a produção científica”, pretendeu “reforçar o importante valor acrescido que é ter uma atividade de investigação clínica dinâmica e produtiva num serviço de Medicina Interna e apontar para pequenos passos que estão, já no imediato, ou poderão estar, com algum investimento pessoal e institucional, ao nosso alcance para estimular a que essa seja a realidade em mais serviços desta especialidade”. Ao longo da sua palestra, pretendeu destacar a relevância dos médicos em geral, e dos internistas em particular, nas atividades de investigação clínica.

“A investigação é um dos pilares da formação contínua e de desenvolvimento de um clínico, tal como é bem reconhecido desde há muito tempo e a nível global. Para além disso, é um fator óbvio de avanço no conhecimento e, consequentemente, na melhoria dos cuidados que prestamos aos nossos doentes, além de poder constituir uma fonte de retorno económico. No entanto, há desafios e obstáculos a vários níveis que fazem com que a atividade de investigação clínica seja muitas vezes difícil e até frustrante em Portugal, e em concreto nos serviços de Medicina Interna”, continuou a especialista, terminando ao dizer que “vivemos tempos muito desafiantes para a Medicina e o lema e todo o programa da reunião vão ao encontro desta realidade”, desejando que “este fórum resulte num movimento de promoção e de valorização  da investigação clínica no seio da Medicina Interna e, até, que dele saiam propostas concretas nesse sentido”.

António Martins Baptista, membro do Núcleo de Estudos de Formação em Medicina Interna, relativamente à palestra “Da seleção à avaliação dos orientadores de formação”, revelou que a principal mensagem que pretendeu passar a todos os participantes foi “um pedido de reflexão, sobre qual o caminho que a nossa formação deve seguir”.

“Mostrei os resultados de três inquéritos, sobre o grau de satisfação dos internos de formação específica em Medicina Interna e dos seus orientadores de formação. Apresentei também as conclusões de um workshop ocorrido na Escola de Formadores em Medicina Interna (EForMI), sobre as adaptações nos serviços de Medicina, sugeridas pelos orientadores para melhorar a formação”, concluindo que “este é um fórum muito aberto e sincero, e é um dos locais de eleição, para a Medicina Interna planear novos caminhos”.

“Têm de ser criadas condições de trabalho dignas que permitam aos internistas dedicar-se à sua atividade assistencial e às áreas para as quais estão mais vocacionados, que possam ter tempo para estar com os seus doentes, para estudar, para investigar e que lhes permitam ter também períodos de descanso. A especialidade de Medicina Interna conhece os seus objetivos, mas tem de saber fazer bem o caminho para os atingir. A formação dos internos é fulcral para a especialidade no futuro e temos de lhes transmitir como é atrativa e recompensadora”, terminou Lèlita Santos, Presidente da SPMI.

(15/11/2022)