Pequenas mudanças fazem a diferença na redução do risco de AVC
Dia Nacional do Doente com AVC assinala-se a 31 de março
Estima-se que, no mundo, uma em cada seis pessoas sofre de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A cada hora que passa, três portugueses confrontam-se igualmente com esta emergência médica. Apesar de ser um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade, bem como um dos grandes desafios da Medicina, o AVC pode, em grande parte dos casos, ser prevenido.
As células cerebrais necessitam de um fluxo sanguíneo constante que lhes forneça oxigénio e nutrientes. O AVC acontece como consequência da interrupção brusca do fornecimento de sangue no cérebro causado pelo bloqueio de uma artéria ou pelo rompimento do vaso sanguíneo. No primeiro caso falamos de um AVC isquémico e no segundo de um AVC hemorrágico.
O tipo de AVC, a área do cérebro afetada e o estado de saúde do doente antes do episódio de AVC, determinam as suas consequências. Mas há um fator que pode influenciar a extensão das lesões provocados no doente (que condicionam quer o prognóstico vital, quer as consequências funcionais, desde alterações cognitivas, a dificuldades de movimentação e comunicação ou até a problemas comportamentais) e que corresponde ao intervalo temporal entre a manifestação dos sintomas e a intervenção médica. Realmente, o prognóstico (a curto e a médio prazo) do acidente agudo está muito dependente da precocidade da intervenção médica. Este aspeto é particularmente significativo no AVC isquémico, onde o uso das técnicas de recanalização e, naturalmente, a sua eficácia, estão criticamente dependentes do timing da intervenção.
Por este motivo, é importante saber identificar os sinais de alerta mais caraterísticos de um Acidente Vascular Cerebral. São eles: dormência ou descaída de um dos lados da face; perda de força num dos lados do corpo, que pode ser sentida num braço ou numa perna (ou em ambos); dificuldades na fala; alteração da visão; e dores de cabeça intensas.
À mínima deteção de qualquer um destes sinais, que podem ocorrer isoladamente ou em conjunto, é imperativo ligar para a linha de emergência 112.
Por ocasião do Dia Nacional do Doente com AVC, torna-se fundamental não só alertar os portugueses para os sinais de alerta, como também consciencializá-los para a necessidade de adotar uma atitude preventiva, uma vez que existem comportamentos de risco que favorecem a ocorrência desta emergência médica. Relembra-se que a doença vascular cerebral é a doença neurológica mais suscetível de prevenção.
A tomada de uma postura que garanta a diminuição do risco de Acidente Vascular Cerebral ou de outros problemas cardiovasculares passa pela adoção de um estilo de vida mais saudável e ativo.
Em primeiro lugar, é importante abolir da rotina diária os comportamentos de risco, nomeadamente, o consumo de bebidas alcoólicas em excesso e o tabagismo. Simultaneamente, há que adotar hábitos que comprovadamente contribuem para uma vida mais longa e com melhor qualidade, como a adoção de uma dieta saudável, que se quer equilibrada e com reduzidos níveis de sal e gorduras, e a prática regular de exercício físico (uma caminhada durante 30 minutos, todos os dias, é um bom princípio). Para além disto, é importante prestar atenção aos indicadores gerais de saúde: controlo do peso, verificação regular dos níveis de tensão arterial, colesterol e glicemia, sem esquecer as consultas regulares ao médico de família.
As doenças do aparelho circulatório são ainda a principal causa de morte no país, tendo sido o AVC responsável por 10,2 por cento dos óbitos em 2017. Contudo, nos últimos anos, os progressos no tratamento dos doentes e o forte contributo de diversas instituições na sensibilização da Sociedade Civil têm contribuído para o decréscimo da mortalidade, para a diminuição da incidência, e para a melhoria do prognóstico dos doentes após o evento agudo.
O trabalho que os especialistas em Medicina Interna têm prestado em contexto hospitalar tem sido de importância vital no diagnóstico e no tratamento dos doentes com AVC agudo e na continuidade assistencial a que estes doentes obrigam. Seguramente este é um problema que interessa à Medicina Interna nas suas diversas vertentes: prevenção, diagnóstico, tratamento.
Artigo de Opinião de António Oliveira e Silva, internista e vice-presidente da SPMI (31/03/2019)