“O congresso deste ano vai contar com a participação da Medicina Geral e Familiar”

A presidente do 27.º Congresso Nacional de Medicina Interna (CNMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Alexandra Bayão Horta, destaca a participação especial da Medicina Geral e Familiar e pede aos congressistas que aprendam muito, convivam e troquem experiências. O congresso realiza-se de 2 a 5 de outubro.

Alexandra Bayão Horta, presidente do 27.º Congresso Nacional de Medicina Interna (CNMI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, que, este ano, é organizado pelo Serviço de Medicina Interna do Hospital da Luz, fala sobre a organização deste evento, dos fatores diferenciadores e das dificuldades que lhes continuam a ser impostas pela pandemia covid-19. Destaca a participação especial da Medicina Geral e Familiar e pede aos congressistas que aprendam muito, convivam e troquem experiências. O 27.º CNMI realiza-se de 2 a 5 de outubro, em Vilamoura.

O tema escolhido para o congresso deste ano é: “Valorizar a Medicina Interna”. Porquê?

Alexandra Bayão Horta (ABH) – Temos no ADN da nossa especialidade de Medicina Interna o culto da valorização do conhecimento, da capacidade de decisão clínica, da comunicação com o doente, da atitude responsável e solidária perante a adversidade, da responsabilidade sobre a evolução clínica do doente, e da formação de novos médicos. Esta preparação e postura transversal da Medicina Interna, com o desenvolvimento de capacidades clínicas centradas no doente, em paralelo com capacidades organizativas das instituições hospitalares, define o médico de MI como o especialista hospitalar mais habilitado a ser o “gestor” do doente dentro do hospital.

De facto, estamos habituados a ser valorizados por sermos o esteio do funcionamento dos hospitais e isto é motivo de orgulho para nós.

Mas, queremos também ser valorizados por sermos o motor da melhoria da organização do sistema e não só os executores, tendo uma participação mais ativa nas decisões tomadas no hospital. Queremos também ser valorizados por sermos o motor da potenciação das outras especialidades que cada vez mais necessitam da nossa presença no hospital para poderem intervir sobre doentes frágeis e multimórbidos. Queremos ainda ser valorizados por conseguirmos dentro da nossa especialidade cultivar o entusiasmo pela investigação clínica feita com rigor e evidência científica.

Uma outra questão que coloca a Medina Interna na frente das especialidades altamente valorizáveis é o facto de sermos a especialidade ideal para integrar o desenvolvimento tecnológico com a medicina clássica. Mantendo o foco da atividade médica no doente, numa altura em que a evolução tecnológica nos puxa a todos para decidir com base na evidência criada pela ciência de dados, a análise individual do doente, sem perder a informação do conjunto da evidência, é uma arte que pertence a uma especialidade generalista como é a Medicina Interna.

Como está a correr a organização do congresso deste ano?

ABH – Muito bem. Definimos o programa, que ficou muito variado e interessante, e estamos, nesta fase, a trabalhar ativamente na organização das apresentações das comunicações livres.

O que a levou a encarar este desafio?

ABH – O Hospital da Luz Lisboa foi a primeira instituição privada nacional a conseguir criar um serviço de Medicina Interna, com uma organização verdadeiramente hospitalar. Fomos reconhecidos por isto, quando a Ordem dos Médicos nos deu idoneidade formativa para formar internos de Medicina Interna, mas foi mais morosa a obtenção do reconhecimento pelos nossos pares internistas do SNS. A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna não foi alheia à noção deste facto e, tendo a convicção de que o sistema de saúde precisa de todos, quando nos propusemos aceitou logo com entusiasmo. Estamos gratos e orgulhosos.

Este ano, o congresso vai contar com a participação especial da Medicina Geral e Familiar. Qual a importância do envolvimento entre as duas especialidades?

ABH – Sendo a Medicina Geral e Familiar a especialidade “prima” da Medicina Interna e tendo sido, recentemente, celebrado entre as duas especialidades o “Documento de consenso sobre gestão do doente crónico em Portugal”, achámos que era o momento ótimo para os envolver neste que é o principal evento científico dos internistas.

Como no Hospital da Luz Lisboa temos uma unidade de Medicina Geral e Familiar presente dentro do hospital, a colaboração dos nossos colegas na construção do programa científico deste congresso foi completamente natural.

A Medicina Geral e Familiar está para o doente de ambulatório como a Medicina Interna está para o doente do hospital – é uma “gestora” do percurso do doente no sistema de saúde.

O Sistema Nacional de Saúde precisa de integrar a relação entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares. Este modelo que temos no HLL aproxima de facto as duas especialidades, que trabalham de forma muito interligada, referenciando os doentes entre ambas e sendo criativas na melhor solução para o acompanhamento do doente caso a caso. Assim conseguimos centrar os cuidados de saúde no doente, o que é da maior importância e, ainda, acresce que temos no HLL cuidados continuados e paliativos, para além como é óbvio todas as condições para o tratamento do doente agudo.

Quais os próximos passos a dar, entre a MI e a MGF, no sentido de melhorar a gestão do doente crónico?

ABH – Penso que este é um tema que tem que ser interiorizado de forma progressiva pelas duas partes, começando aos poucos a ser considerado a rotina e a forma natural de trabalhar. Pelo menos, demorará duas gerações de especialistas de MI e de MGF. Tem que ser da responsabilidade dos mais velhos orientar os jovens especialistas e internos e estes os seus internos. Lá chegaremos, desde que não percamos o entusiasmo e não deixemos de saber onde está o “Norte”.

Além desta questão de MGF, em que é que o congresso deste ano se distingue dos anteriores?

ABH – Além da aproximação efetiva aos médicos de MGF, realçamos a existência de duas conferências, no 2.º dia, e duas conferências, no 3.º dia do congresso, feitas por médicos mais experientes que nos transmitam a sua visão e conhecimento sobre temas da sua experiência. As conferências serão proferidas por figuras ilustres e de destaque em cada uma das áreas como o Prof. Fausto Pinto, o Dr. João Sá, o Prof. David D’Cruz e o Prof. Luís Graça.

De resto, estarão presentes os temas mais frequentes na nossa prática e teremos oportunidade para discussão de aspetos de formação, investigação, organização e liderança e, como não podia deixar de ser, espaço bastante para os nossos internos apresentarem trabalhos bem como um espaço privilegiado para a tarde do jovem internista.

À semelhança do ano passado, continuamos em pandemia, o que não facilita o trabalho de quem organiza um congresso com esta dimensão. Como estão a gerir esta situação? Que iniciativas vão ser colocadas em prática?

ABH – A pandemia tem condicionado muito a nossa organização, começando, desde logo, pela mudança da data de realização do evento que estava previsto para o último fim-de-semana de maio e que foi adiada para outubro.

Adiar esta data foi inevitável, tendo a principal motivação decorrido do facto dos nossos internistas estarem impossibilitados de preparar trabalhos para o congresso, em janeiro e fevereiro de 2021, por estarem completamente focados no trabalho assistencial aos doentes covid-19, na altura em que a pandemia estava no seu máximo de atividade. Adicionalmente, a indústria farmacêutica tinha, no 1.º semestre de 2021, múltiplas restrições à sua participação nestes eventos, sempre que os mesmos tivessem uma componente presencial, e nós não queríamos ter um evento apenas online.

Neste momento, com o formato híbrido do congresso (tal como foi o do ano passado) esperamos uma participação presencial expressiva. Temos algumas condicionantes impostas pela pandemia, em particular o dimensionamento das salas por forma a distribuir os participantes, observando as normas de distanciamento obrigatórias que serão, como é óbvio, respeitadas.

Quais as suas expectativas em relação ao congresso deste ano?

ABH – Gostaríamos de ter uma casa cheia com muitos médicos de MI – e também com colegas de MGF – e com todos os participantes e palestrantes contentes de poderem encontrar-se e voltar a viver estes momentos de transmissão de conhecimentos e de convívio de que todos gostamos tanto.

Que mensagem deixa aos participantes?

ABH – Esperamos que vão, que aprendam muito e que convivam muito. Troquem experiências, fomentem a interligação entre serviços, revejam amigos, criem novos amigos, enfim, estreitem laços dentro da comunidade dos internistas nacionais.

Entrevista de Nuno Bessone
In healthnews.pt
(12/08/2021)