Notícia para painel | Problemas Agudos da Gravidez e Puerpério

Problemas agudos de gravidez e puerpério

“Tromboembolismo venoso”, “Crise hipertensiva e pré-eclâmpsia” e “Convulsão sem hipertensão arterial” foram os temas abordados durante a sessão “Problemas agudos de gravidez e puerpério”, que se realizou esta sexta-feira, tendo sido presidida por Inês Palma dos Reis, assistente hospitalar de Medicina Interna do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, e moderada por Catarina Conceição, assistente hospitalar de Medicina Interna e Intensiva do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental.

“O tromboembolismo venoso (TEV) na gravidez continua a ser uma das principais causas de morte materna em países desenvolvidos, apesar do uso de tromboprofilaxia em mulheres com risco aumentado”, afirma Filipa Lourenço, assistente Hospitalar de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Lisboa Central.

“O risco de TEV é superior numa mulher grávida, comparado com o de uma mulher não grávida da mesma idade; aumenta durante a gravidez e atinge um pico durante o período pós-parto. A incidência estimada de TEV é de, aproximadamente, 1–2 por 1000 gestações”, esclareceu Filipa Lourenço, durante a sua apresentação.

Tal como referiu, o diagnóstico de tromboembolismo pulmonar (TEP) durante a gravidez pode ser desafiante, uma vez que “os sintomas coincidem frequentemente com os de uma gravidez normal”.

“As guidelines emitidas por diversas entidades não são consensuais na abordagem diagnóstica e na estratégia”, observou, fazendo alusão a dados recentes, que sugerem que uma estratégia de diagnóstico baseada na avaliação da probabilidade clínica, da medição dos d-Dímeros, do eco-Doppler venoso e da Angio-TAC pulmonar, pode excluir com segurança a possibilidade de TEP na gravidez.

“Tanto a exposição materna como a fetal são baixas utilizando técnicas imagiológicas modernas, com protocolos de baixa radiação. Todas estas grávidas devem ser abordadas por uma equipa multidisciplinar experiente, que deve estabelecer um plano para orientar o tratamento da gravidez, trabalho de parto, parto, cuidados pós-natal e no futuro”, concluiu a médica.

HTA principal causa de morbimortalidade materna e fetal

“A hipertensão arterial (HTA) apresenta uma prevalência de 7 a 10 por cento durante a gravidez e puerpério, constituindo a principal causa de morbimortalidade materna e fetal nos países desenvolvidos”, disse Ana Alves Oliveira, internista do Hospital de Santarém, justificando, assim, a pertinência da discussão deste assunto, e continuou, explicando que existem quatro formas de apresentação de HTA durante a gestação, sendo a pré-eclâmpsia e a eclâmpsia as patologias com a maior mortalidade associada.

“Tanto em contexto de consulta, urgência ou internamento o médico internista tem o importante papel de identificar as mulheres em idade fértil com risco de desenvolver estas complicações, intervindo de forma precoce na sua prevenção. Quando a prevenção falha a abordagem das crises hipertensivas deve ser multidisciplinar. Em muitos hospitais cabe aos internistas colaborar no tratamento destas patologias pelo que a formação nesta área é essencial”, salientou.

E concluiu: “É importante reconhecer que nem todos os casos de pré-eclâmpsia são lineares, as formas de apresentação “atípicas” e a sobreposição de sintomas com outras patologias dificultam a sua identificação. Após o diagnóstico, o desafio seguinte será o tratamento, que assenta nos seguintes pilares fundamentais: controlo tensional, prevenção de convulsões, gestão criteriosa do balanço hídrico, proteção da função renal, avaliação do bem-estar fetal e planeamento do parto.”

Epilepsia já não é uma contraindicação para a gravidez

“Falar de ‘Convulsões sem Hipertensão Arterial’ é abordar um extenso rol de condições, das quais a epilepsia assume particular destaque”, afirmou Pedro Correia Azevedo, assistente hospitalar de Medicina Interna do Hospital Garcia de Orta.

Segundo referiu durante a sua apresentação, no passado, as mulheres com epilepsia eram aconselhadas a evitar a gravidez. Contudo, esta entidade não é mais considerada uma contraindicação para a gestação.

“Mais de 90 por cento das mulheres com epilepsia terão bons resultados na gravidez. Porém, a mortalidade das grávidas com epilepsia é 10 vezes superior à das grávidas sem epilepsia (aumento de 0.1 por cento de risco absoluto)”, referiu.

Pedro Correia Azevedo lembrou que a preparação para a gravidez começa na preconceção sendo essencial o controlo adequado das comorbilidades. “Uma mulher com epilepsia deve estar, preferencialmente, em monoterapia com a menor dose eficaz – a lamotrigina e o levetiractam aparentam melhor perfil de segurança. Nas convulsões focais, após o 1.º trimestre, a carbamazepina pode ser uma opção”, indicou, mencionando que, ao longo da gravidez, é necessário monitorizar e ajustar as doses.

O médico observou ainda a importância de se apostar na prevenção primária com o uso de ácido fólico 1mg/dia (ou 4mg/dia se antiepiléticos indutores ou defeitos prévios do tubo neural) da preconceção ao 3.º trimestre, assim como na prevenção secundária com adequado rastreio de malformações congénitas; e de desmistificar a amamentação, uma vez que não está contraindicada.