NEBio promoveu debate para analisar termos e conceitos usados na relação clínica

O Núcleo de Estudos de Bioética (NEBio) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) levou a cabo um debate sobre os termos e conceitos usados na relação clínica que os médicos estabelecem com os seus doentes. Depois das iniciativas idênticas no Porto (com o Instituo de Bioética da U. Católica) e em Coimbra (com o Centro de Direito Bioético), a sede da SPMI, em Lisboa, foi o local escolhido para este encontro que contou com a presença, entre outros, dos deputados Alexandre Quintanilha e José Manuel Pureza, e do antigo Secretário de Estado da Saúde Manuel Pizarro.

António Carneiro, coordenador do NEBio, justifica a importância desta iniciativa com a premência do tema na sociedade portuguesa e colocou a tónica na importância da comunicação.

“Na relação clínica, a escolha das palavras adequadas é muito importante, porque permite que nos entendamos, adotando a linguagem adequada à situação e à sensibilidade do interlocutor. Nas conversas sobre diagnóstico da doença e prognóstico ainda é mais importante, porque a pessoa está em condição vulnerável e, nesse contexto, os termos e palavras podem ter um significado muito diferente. Quando isso acontece, o emissor pode não conseguir transmitir o que pretendia e o recetor perceber uma coisa totalmente diferente do que o emissor desejava”, disse o médico, frisando que nesse contexto a probabilidade de não se entenderem ou ficarem com ideia errada é grande e que a relevância dessa barreira é ainda maior quando se fala de tratamentos, da doença ou das expetativas do doente.

António Caneiro relembrou que nas discussões públicas recentes sobre as decisões de fim de vida, cuidados paliativos e fragilidade dos cuidadores, assistiu-se muitas vezes ao uso de termos incorretos e palavras inexatas, e que esse foi o mote para erguer esta iniciativa no âmbito da SPMI, desta feita contando com a presença de alguns parlamentares.

Quanto à pertinência da discussão deste tema no seio da Medicina Interna, o coordenador do NEBio sublinhou que “os internistas, por definição, não só cuidam de doentes vulneráveis, como de doentes com muitas doenças graves e que às vezes estão em fim de vida. Por isso”, resumiu, “reúnem, à partida, as condições mais desafiantes para esta relação de escolha das palavras e de conceitos”.

Deputado da Assembleia da República desde 2015, Alexandre Quintanilha, físico e antigo professor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, viu com agrado a iniciativa promovida pelo NEBio e explicou que ele próprio se debate com a dificuldade em dar o seu parecer sobre certos temas, alertando para os perigos que isso pode trazer à democracia.

“Hoje em dia, a grande maioria das decisões que tomamos têm que ver com assuntos complexos, pois há muito conhecimento a ser adicionado todos os dias. As pessoas são confrontadas com tanta informação e tanto conhecimento que se sentem incapazes de tomar uma posição, pois acham que não sabem o suficiente para tal. Daí nasce a tendência em delegar essa decisão nos chamados experts, os técnicos, o que que levanta o perigo de que uma democracia se torne uma tecnocracia. Por isso, este tipo de reflexões é tão importante”, admitiu o deputado.

Já Manuel Pizarro, médico de Medicina Interna e antigo Secretário de Estado da Saúde, classificou esta como uma ideia “muito interessante e oportuna”.

“Num mundo cada vez mais complexo como aquele em que vivemos, evidentemente que a decisão política não é uma decisão técnica, mas tem de ser uma posição bem informada do ponto de vista técnico. Iniciativas como esta têm uma caráter pedagógico, propiciando uma interação entre os profissionais de saúde e os decisores políticos, o que só pode resultar em melhores decisões, que é aquilo que todos desejamos”, concluiu.

(14/05/2019)