Médicos debatem sobre a diferenciação da Medicina Interna

João Araújo Correia, Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna realizou, este sábado, em Peniche, a Reunião dos Diretores e Orientadores de Formação, com o objetivo de abordar o tema “Medicina Interna Generalista versus Diferenciação Reconhecida na MI – Convivência ou Incompatibilidade?”.

Durante a sessão de abertura, João Araújo Correia, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), destacou a grande utilidade desta reunião, por considerar ser de caráter fundamental na vida da SPMI, não fossem os Diretores de Serviço “a face mais visível da Medicina Interna (MI)”, em Portugal. “São quem acaba por traçar o rumo da MI, pela adoção de novas técnicas na prática clínica ou criando unidades inovadores de tratamento dos doentes”, afirmou.

Fez ainda questão de demonstrar a total disponibilidade da Direção da SPMI na defesa de causas relevantes para os internistas, referindo que, por várias vezes, existiu já a repercussão mediática das posições tomadas, que agiram como veículo facilitador das mudanças pretendidas.

O presidente da SPMI, aproveitou a ocasião para lançar um desafio aos Diretores de Serviço de MI: “Aceitem a participação num grupo whatsapp organizado pela SPMI, é uma forma expedita de trocarem informações entre vós, porque a verdade inconveniente está arredia das notícias e é importante podermos pensar e agir acompanhados pelos nossos pares.”

João Araújo Correia, apontou alguns dos receios transversais aos médicos de Medicina Interna que estão subjacentes ao tema “Diferenciação em Medicina Interna”, com a agregação de internistas com diferenciação similar em Unidades de Tratamento Específico de Doentes.

“Há quem diga, que esta evolução leva à balcanização dos serviços de MI, relegando para um plano secundário os nossos doentes de sempre, tais como os idosos, pluripatológicos ou os polimedicados”, disse.

Existem outras questões inerentes a esta transição que fazem parte do leque de preocupações dos internistas, tais como o receio de que o trabalho numa área específica, possa prejudicá-los na sua carreira hospitalar, levando a que apontem o dedo às Administrações Hospitalares, por se considerarem discriminados e pouco reconhecidos.

No que concerne à formação dos médicos internistas, João Araújo Correia, alertou para a importância da avaliação de questões como a formação específica dos internos, que poderá ser-lhes prejudicial pela dispersão dos especialistas do quadro, nas áreas de diferenciação a que se dedicaram.

E levantou a questão: “Será lícito permitir ao Interno uma formação orientada para uma área específica? O novo programa de formação permiti-lo-á?”

Lembrou ainda, em tom de agradecimento, para a exigente tarefa dos diretores, ao terem de manter os serviços atualizados e, ao mesmo tempo motivadores, sem nunca descurarem o trabalho assistencial árduo, pelas muitas centenas de doentes crónicos complexos, que enchem as enfermarias.

“É um equilíbrio difícil, mas que sabemos fazer, porque é isso mesmo que carateriza o modelo do exercício da Medicina Interna, em Portugal”, referiu.

Terminou, agradecendo aos Colegas que se dispuseram a ser preletores, como Jorge Almeida, Jorge Cotter, Luís Campos, João Santiago Correia, Pedro Cunha, Vasco Barreto, e a todos os que participam de forma presencial ou através da plataforma de streaming.

De seguida, Armando Carvalho, presidente da Direção do Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem do Médicos, referiu que poderá ser um risco existirem várias Unidades especializadas num Serviço de Medicina Interna. Salientou ainda, a importância da operacionalização, mencionando o Programa de Formação do Internato Médico da Área Profissional de Especialização da Medicina Interna, que foi aprovado em 2018, mas que ainda aguarda publicação em DR para poder ser aplicado.

No decorrer da reunião foi realizado um debate sobre a “Importância das Unidades de Tratamento Específico dos Serviços de MI”, cujo painel de discussão foi moderado pelos vice-presidentes da SPMI, Lélita Santos e Luís Duarte Costa. Jorge Almeida, diretor do Serviço de MI do Hospital de São João, no Porto, mostrou-se “A favor” destas Unidades especializadas, que têm provas de sucesso dadas no seu Serviço, como a UCIM e a UAVC. Jorge Cotter, acabou também por ser “A favor” destas Unidades, mas quis lembrar os perigos inerentes á sua “emancipação” do Serviço, sublinhando também a sua oposição frontal a qualquer tentativa de limitação á investigação ou á prescrição entre os Internistas!

Seguiram-se mais duas sessões. A primeira esteve subordinada à temática central “Papel do Diretor do Serviço na Diferenciação Pós-Graduada”, onde foram abordadas as “Oportunidades de Diferenciação após a Titulação como Especialista de MI”, por Luís Campos, diretor do Serviço de MI do Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa; e a “Programação de Formação Especifica dos Internos pelo Diretor do Serviço: Vale a Pena fazer?”, por João Santiago Correia, diretor do Serviço de MI do Hospital da Guarda. A moderação esteve a cargo de Oliveira e Silva, vice-presidente da SPMI, e Fernando Salvador, secretário adjunto. Algumas das mensagens transmitidas, merecem ser sublinhadas: 1) A pandemia tornou clara a necessidade do conhecimento generalista;2) O modelo de organização hospitalar departamental, é o que melhor responde aos desafios de hoje e do futuro;3) As Unidades Especializadas nos Serviços de Medicina garantem melhores resultados;

Na sessão seguinte falou-se de “A Formação em Áreas Especificas durante o Internato de MI”, cuja moderação foi feita por Armando Carvalho e Jorge Crespo, tesoureiro da SPMI. Desta volta, Pedro Cunha, membro da Direção do Colégio de MI da OM, falou sobre “O que permite o Programa de Formação?”; e Vasco Barreto sobre “O perfil antes da Titulação?”. Pedro Cunha, fez notar a preocupação que existiu na feitura do novo Programa de Formação no sentido de incentivar a diferenciação. Por isso, faz-se depender a idoneidade dos serviços, da existência de Consultas Específicas, Unidades Especializadas (UIM e UAVC) e da capacidade de proporcionarem treino em técnicas de diagnóstico essenciais (ECO p.ex.). E, mais uma vez, Vasco Barreto afirmou que “ser generalista é uma mais valia para o Internista que se diferencia!”

Para terminar esta participada reunião de debate, na sessão de encerramento, João Araújo Correia, fez um resumo das principais conclusões do encontro, e acrescentou que “os estágios devem ser preferencialmente em serviços de MI, mesmo que sejam em áreas específicas. De certeza, que os nossos internos vão aprender mais, do que se forem a um serviço de uma subespecialidade própria.”

O presidente da SPMI, concluiu dizendo que o diretor de Serviço de Medicina possui um papel essencial na definição do que o interno vai fazer. Não obstante, deve ter sempre a noção da idoneidade do serviço, isto é, o produto final deve corresponder àquilo que se pretende na formação do interno. Para este efeito, deverá realizar uma avaliação do ambiente em que se insere, de forma a perceber o que é realmente necessário naquele serviço, para aquele Hospital e para a população em que está inserido.