Internistas reforçam papel fulcral da especialidade na Urgência

Depois de Madeira, Braga e Coimbra, o Congresso Nacional de Urgência realizou-se no último fim de semana em Setúbal, voltando a reunir internistas e demais especialistas que se movem numa das zonas mais críticas, mas também nevrálgicas, de qualquer hospital.

Entre alguns dos temas em discussão estiveram, inevitavelmente, as complicações cardio e cerebrovasculares, as infeções, o papel da reanimação, as intoxicações e, obviamente, a organização necessária do Serviço de Urgência (SU).

Susana Neves Marques, Maria da Luz Brazão e António Martins Baptista

Na sessão de abertura no Fórum Luísa Todi, António Martins Baptista, antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e presidente do congresso, recordou o nascimento deste projeto, sublinhando que a reunião tem vindo a crescer.

“Começámos com 80 participantes, hoje estamos perto dos 300 e temos potencial para crescer muito mais”, disse Martins Baptista, que salientou que a Urgência é um tema muito ‘apetecido’ pelos internistas.

“Os internos de Medicina Interna têm muito apetência por este tipo de temas. Além disso, é um assunto que politicamente não está resolvido e temos todos de lutar para que os cuidados aos doentes sejam cada vez melhores. Para isso, é necessário convencer os políticos de que estas questões têm um principio basilar: o financiamento.”

O presidente do congresso frisou que o pior sítio para qualquer doente com doença crónica é o SU e que por isso são necessárias alternativas.

“Se houver uma porta alternativa para os doentes crónicos, não necessitamos de ter sempre as urgências cheias e evitam-se complicações e novas infeções. Este seguimento do doente, com diminuição do número de doentes que vai à urgência, é a solução pela qual temos de nos bater. Enquanto os governantes não perceberem quais são as soluções para os doentes vamos ter muitas dificuldades em chegar a bom porto”, terminou o internista.

Nuno Fachada, direto clínico do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) descreveu o cenário na região do Sado e assumiu que o SU tem ocupado 75% das preocupações da direção que lidera.

“Cedo nos apercebemos que as condições da nossa urgência eram das mais críticas no país. O SU é uma porta aberta à população e atende desde o simples arranhão aos casos que implicam risco de vida. Muitos se salvam, muitos ficam por salvar. No SU assistimos à competência e muitas vezes transcendência dos profissionais médicos e outros. A urgência é para muitos dos profissionais o local de maior desgaste e em todas as ocasiões chegamos à conclusão de que são necessárias mudanças. Em suma”, concluiu, “as urgências do CHS são o sitio mais perigoso da cidade”.

Depois de na conferência de abertura ter abordado o tema “Serviço de Urgência: do real ao ideal”, Maria do Luz Brazão, coordenadora do Núcleo de Urgência e Doente Agudo da SPMI, assumiu que são necessárias mudanças no sistema e que os internistas podem estar no centro desse processo.

“Os internistas devem estar no centro da mudança que é necessária e a urgência só tem a beneficiar com isso. A presença do internista na urgência é fundamental, pois temos uma visão global do doente e podemos proporcionar um contínuo de cuidados.”

A internista lembrou, contudo, que existem vários constrangimentos que os médicos enfrentam no dia a dia, referindo a falta de autoridade delegada, a enorme afluência, assim como a necessidade de colaboração mais estreita com a Medicina Geral e Familiar.

“É fundamental que a MGF colabore connosco no doente crónico e agudizado. Se formos mais teremos possibilidade de dar resposta na urgência e nas portas alternativas à urgência e, portanto, vamos certamente reduzir os doentes que vão até à urgência, descongestionando-a.”

A terminar, a coordenadora do Núcleo de Urgência e Doente Agudo mencionou também o bloqueio do internamento como um problema que afeta a urgência.

“Temos de melhorar a gestão de camas. A urgência não é o único problema e tem de ser analisado o pré e pós urgência. O ideal seria a constituição de unidades em torno da urgência para onde estes doentes fluíssem com naturalidade e rapidez”, concluiu.

Também presente na sessão, Ricardo Oliveira, vereador da saúde da Câmara Municipal de Setúbal, elogiou a tarefa “exigente e realizada em condições muito difíceis” de todos os profissionais que trabalham no SU.

A terminar, Susana Neves Marques, Secretária geral do congresso, salientou a ”honra” de organizar este evento e agradeceu a oportunidade concedida ao CHS.

(19/11/2018)