Internistas marcam presença no Congresso Europeu de Imunodeficiências

Lisboa recebeu nos últimos dias o 18.º Congresso da European Society for Immunodeficiencies (ESID). Presentes estiveram cerca de 2400 especialistas de todo o mundo, das mais variadas áreas científicas, e entre eles fez-se representar a Medicina Interna portuguesa, que teve Carlos Vasconcelos e António Marinho como membros da comissão organizadora local.

O fundador da Unidade de Imunologia Clínica do Hospital de Santo António, no Porto, revela que se trata de uma reunião “altamente importante e participada”, em que é interessante verificar que não são só médicos que estão presentes.

António Marinho e Carlos Vasconcelos, dois dos internistas portugueses presentes no 18.º Congresso da ESID

“Há muitos profissionais de laboratório, biologistas e imunologistas básicos, todos focados no extraordinário campo das imunodeficiências”, esclarece Carlos Vasconcelos, que avança que esta é uma área a que os internistas têm de prestar cada vez maior atenção.

“Este é um tema extraordinário e em crescimento acelerado, a que os internistas vão ter de se dedicar mais. Cada vez vemos mais imunodeficiências primárias em adultos, e muitos internistas que têm perante si quadros clínicos complexos têm de ponderar se podem tratar-se de imunodeficiências.”

Diz ainda o especialista do Hospital de Santo António que os internistas têm de ultrapassar o “medo” da imunologia.

“Temos de aprender a viver com a imunologia, pois são grandes e frequentes as implicações desta área na prática clínica”, afirma, deixando um repto:

“Quando tiverem quadros clínicos complexos, não tentem encaixá-los ‘à força’ num diagnóstico que conheçam e pensem antes se não será um quadro clínico relacionado com uma imunodeficiência, ou um síndrome autoinflamatório, para além, claro, de um doença autoimune.”

NEDAI presente como referência da Medicina Interna

Outra das presenças portuguesas na reunião foi a de António Marinho, especialista em Medicina Interna e coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que recorda os tempos em que este congresso da ESID contava com pouco mais de meia centena de participantes. O seu crescimento, explica, está associado ao crescimento desta área científica, em que os internistas são uma “mais valia”.

“É uma área de investigação enorme e os internistas são uma grande mais valia. Até há poucos anos, a grande maioria dos doentes não chegava à idade adulta, mas hoje não é assim e são necessários especialistas que acompanhem estes doentes, que precisam de novas competências, de novos médicos que assegurem a continuidade de cuidados.”

Por outro lado, acrescenta o internista, “com o ensino que recebemos destas imunodeficiências primárias em crianças, passámos a diagnosticá-las em adultos, pelo que é uma nova área que temos vindo a abarcar. É uma área da imunologia clinica, associada à infeção, à desregulação imune e à própria autoimunidade. Portanto, tem tudo a ver connosco, internistas, e com o NEDAI”.

António Marinho adverte que este é um campo de conhecimento que vai certamente crescer e que o papel da Medicina Interna pode ser crucial.

“É uma área que vai cresce muito nos próximos anos. Não só porque a quantidade de doentes que nos vai aparecer vai ser grande, mas também porque são os doentes típicos dos internistas, de análise multissistémica e com complicações graves.”

A terminar, o coordenador do NEDAI realça a importância dos centros de excelência, “capazes de assegurar o cuidado integral destes doentes, pois são casos que necessitam de especialistas profundamente conhecedores desta área, que é algo que o NEDAI e a SPMI trabalham para que aconteça”.

(27/10/2018)