Hepatite C: Ainda existem por diagnosticar «uns milhares de doentes»

Hepatite C: Ainda existem por diagnosticar «uns milhares de doentes»

Em Portugal, muitos dos doentes com hepatite C não estão diagnosticados, havendo, segundo Armando Carvalho, diretor do Serviço de Medicina A do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, “uns milhares de doentes por identificar”. Esta foi uma das conclusões do 29.º Curso de Doenças Hepatobiliares, organizado pelo Serviço dirigido por aquele internista, que se centrou no tema “Hepatite C: o futuro”.

Perante esta realidade, Armando Carvalho, que é presidente do Colégio da Especialidade de Medica Interna da Ordem dos Médicos, refere que é necessário estabelecer um rastreio, “provavelmente, não dirigido a toda a população, mas a alguns grupos de doentes”.

O médico, que se tem dedicado à área da Hepatologia, destaca o papel relevante da Medicina Geral e Familiar na identificação de doentes e a importância de definir uma estratégia para chegar aos grupos de maior risco, designadamente os consumidores de drogas.

Hepatite C1

Outra das conclusões deste curso, que se realizou no Auditório dos HUC/CHUC, é que, neste momento, há um tratamento “muitíssimo eficaz” para qualquer dos genótipos do vírus da hepatite C, sendo possível erradicar o vírus em mais de 95% dos doentes, independentemente do genótipo, da gravidade da doença e da experiência anterior ao tratamento.

Por outro lado, tudo aponta para que quando há uma resposta viral mantida a mesma será duradoura (em princípio, para o resto da vida) e que essa erradicação viral tem um impacto importante na história natural da doença, ou seja, “os doentes vão efetivamente ficar melhores”.

No entanto, houve uma dúvida que se manteve, uma vez que há trabalhos nesse sentido: se pode haver, em alguns doentes, uma infeção oculta em que, apesar de não se detetar o vírus em circulação, possam existir casos em que há vírus alojados no organismo.

Adicionalmente, ficou claro que, apesar da cura virológica, se o doente tiver uma doença grave (uma cirrose ou uma situação de fibrose grave) continuará com algumas consequências da doença e com risco de ver a sua situação agravada, podendo vir a surgir, por exemplo, um carcinoma hepatocelular.

De acordo com Armando Carvalho, esse risco é menor do que se o vírus continuasse ativo, mas, apesar de tudo, existe e é tanto maior quanto existam fatores de morbilidade associados, como o álcool, a esteatohepatite não alcoólica, ou a toxicodependência (com o risco de reinfeção).

O internista esclarece que, mesmo depois de erradicado o vírus, os doentes com patologias graves, em muitos casos, deverão continuar a ser acompanhados se houver já uma cirrose ou uma fibrose grave ou se se mantiverem alguns cofatores de doença hepática (álcool, obesidade e diabetes, entre outros).

No decorrer do curso, concluiu-se também que a resistência viral pode significar a não cura de alguns doentes. De qualquer modo, apesar de ser importante para a investigação, parece que “a resistência viral não é, na prática, um problema de grande preocupação”.

Houve tempo ainda para discutir as perspetivas para o futuro da hepatite C, tendo-se deduzido que, “apesar de a terapêutica atual ser extremamente eficaz, ainda vão surgir algumas melhorias, no sentido de quase chegarmos aos 100% de erradicação viral com terapêuticas ainda mais simples, eventualmente, por tempo mais curto, prevendo-se, inclusive, que, num futuro próximo, deixe de ser necessária a ribavirina no tratamento da hepatite C”.

(7/12/2016)