“Gravidez em estado de alerta”: a preocupação que caracteriza as 3.ªs Jornadas do NEMO

As 3.ªs Jornadas do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica (NEMO), que se realizam nos dias 4 e 5 de novembro, no VIP Executive Entrecampos Hotel & Conference, em Lisboa, têm como tema principal “Gravidez em estado de alerta”. A sessão de abertura contou com a presença do coordenador do NEMO e presidente das Jornadas, Pedro Correia Azevedo, a secretária-geral das Jornadas e fundadora deste núcleo de estudos, Inês Palma dos Reis, e a representante da SPMI, Francisca Delerue.

“Tenho o prazer de presidir estas Jornadas. É um orgulho ver o número de pessoas que se inscreveram – 80 online e 90 presenciais – e ver o NEMO a crescer de uma forma transversal. É um gosto ver estas salas com cada vez mais gente. O nosso objetivo num futuro mais próximo é que consigamos escrever as nossas próprias guidelines”, iniciou Pedro Correia Azevedo.

Em concordância, Francisca Delerue referiu que “este é um dos núcleos mais recentes e que tem evoluído muito bem”, considerando que as reuniões são extremamente importantes. “Há uma parceria muito grande entre os internistas e obstetras. Quem beneficia desta união são as grávidas. Em toda a Medicina deve haver uma maior ligação entre os cuidados hospitalares e os cuidados de saúde primários”, concluiu.

Por sua vez, Inês Palma dos Reis destacou a importância de uma abordagem multidisciplinar, durante toda a gravidez.

“A gravidez é um estado de alerta constante. Por outro lado, com a acuidade diagnóstica que hoje temos disponível e com as gestações cada vez mais tardias na idade materna, assistimos a um conjunto de patologias médicas durante a gravidez que são autênticos desafios diagnósticos. A interdisciplinaridade entre saberes médicos faz assim todo o sentido para estarmos alerta durante a gravidez, tratando patologias e prevenindo complicações”, referiu o coordenador.

Aproveitou a ocasião para referir que existiu uma preocupação em abordar temas bastante variados dentro deste âmbito. Existirá, ainda, espaço para desmistificar alguns mitos sobre esta área do conhecimento e problemas relacionados com adições na gravidez. Ao longo dos dois dias estarão presentes médicos especialistas em Medicina Interna, Obstetrícia, Medicina Geral e Familiar, Pneumologia e Psiquiatria.

O objetivo central desta iniciativa, segundo Pedro Correia Azevedo, é “chamar a atenção para a prevenção de complicações e abordagem precoce de patologias maternas na gravidez”. Além disso, este encontro permitirá “rever a abordagem de síndromes médicos maternos na gravidez e destacar o papel da interdisciplinaridade na abordagem da mulher grávida e da puérpera”.

A primeira palestra deste encontro, “Perturbações alimentares e obesidade na gravidez”, teve como presidente a internista Alice Sousa e como palestrante a psiquiatra Dulce Bouça.

“Vou falar de doenças de comportamento alimentar – anorexia, bulimia nervosa e perturbação de ingestão compulsiva.  Há uma certa rejeição em tratar estes doentes, porque muitos especialistas têm uma visão moralista”, começou por explicar a psiquiatra.

Dulce Bouça explicou que “há vários casos destas doenças que surgem durante a gravidez. No entanto, durante a gravidez, estas doenças não pioram nem agravam o seu mal-estar. Após o nascimento, aí sim, tudo piora”. “Como sente o seu corpo?” é a pergunta mandatória que deve ser feita às mulheres quando há suspeita de alguma destas doenças, segundo a especialista.

“É fundamental falar com os doentes sobre a alimentação, porque todo o funcionamento mental depende da nossa alimentação. Se cometerem muitos erros alimentares, as emoções também ficam afetadas”, acrescentando que “as pessoas durante a gravidez estão muito mais abertas a mudar as coisas. A gravidez é um tempo muito importante para levar as pessoas a mudarem os seus hábitos alimentares”, concluiu.

No final, foi aberto um espaço de discussão entre todos os participantes, que culminou num momento de partilha de conhecimento e troca de ideias.

O primeiro dia destas Jornadas é maioritariamente dedicado à saúde mental, mas serão também abordados outros temas, nomeadamente a infertilidade, a hipocoagulação, os exames complementares de diagnóstico, a diabetes, entre outros. Ficará assim em destaque o papel da interdisciplinaridade na abordagem da mulher grávida que tem o obstetra assistente como pivot, numa possibilidade de associação positiva na partilha com os médicos internistas.

(05/11/2022)