Gestores e médicos estiveram lado a lado no encerramento do 24.º CNMI

O 24.º Congresso Nacional de Medicina Interna chegou ao fim com uma sessão que juntou médicos e gestores, procurando dar respostas aos problemas do SNS e como podem médicos e gestores contribuir para um melhor serviço de saúde.

Num debate moderado pela jornalista Carla Trafaria, Delfim Rodrigues, presidente do Conselho de Administração do Hospital de Guimarães, salientou que médicos e gestores não estão em lados opostos e que trabalhar em conjunto é a única solução que lhes resta.

“Podemos não partir do mesmo ponto, mas fazemos a mesma viagem e ambicionamos o mesmo ponto de chegada. Para o bem e para o mal, médicos e gestores só têm uma solução, que passa por trabalhar em equipa, integradamente, por que o que interessa é o bem estar e saúde das famílias e dos doentes.”

António Oliveira e Silva, Marta Temido, Miguel Guimarães, Carla Trafaria e Delfim Rodrigues

Ainda assim, o gestor hospitalar admitiu que existem dificuldades e lembrou que o hospital é por definição uma organização complexa.

“Não devemos esquecer que os hospitais são as organizações mais complexas, pois são aquelas em que coexistem mais profissões, que ascendem a mais de cem. Portanto, não vale a pena pensar que a conciliação tem de ser em torno de interesses corporativos de grupos profissionais. O único elemento agregador é o doente. E se cada profissão tiver o foco no doente, então a agregação será mais fácil e convergem para o doente.”

Também presente no debate, António Oliveira e Silva, vice presidente da SPMI e presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João, começou por esclarecer que atualmente a gestão em Portugal está muito limitada no que aos hospitais diz respeito.

“Vivemos tempos complicados. Teoricamente tenho muitas dúvidas em relação aos conselhos de administração, pois neste momento os hospitais não têm autonomia, estão subfinanciados. Toda a atividade está condicionada e o nosso papel está muito apagado”, criticou.

Quanto ao facto de cada vez mais médicos ocuparem cargos de gestão, como é o seu caso, o internista sublinhou que um médico num conselho de administração continua a ser médico e não deve esquecê-lo.

“Não devemos desfocar-nos do doente. Temos de manter a cultura organizacional, sobretudo em tempos de crise. Há utilidade em ter médicos em lugares de gestão e temos de perceber que competências diferenciadoras têm de ter. Os estudos mostram que existe vantagem em ter estes profissionais nestes lugares, mas, em qualquer dos casos, esta ligação entre gestores e médicos é altamente positiva e o sistema de saúde só funciona se houver esta articulação.

Marta Temido, sub diretora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, também partilhou da opinião de que os médicos podem desempenhar com melhores resultados funções de gestão, admitindo que há uma associação positiva entre essas duas condições. Ainda assim, deixou algumas advertências:

“Temos de saber de que tipo de gestão estamos a falar, com que perfil e experiência prévia. Temos de refletir nas mais valias de cada posição e lutar pelo ultrapassar das exigências, que são cada vez mais profundas. Temos de definir que competências necessitamos para progredir e ter sucesso. Em suma, a gestão tem de ser feita com gestores e médicos, de forma cumulativa e em equipa. Só assim levaremos o barco a bom porto.”

A completar a mesa desta discussão esteve Miguel Guimarães, Bastonário da Ordem dos Médicos, que insistiu que “a gestão começa nos atos clínicos do dia a dia, é feita em cada serviço, em cada departamento”.

“Obviamente é importante que os médicos tenham competências na área de gestão. O médico tem, para além dos elementos de gestão que pode adquirir, a vantagem de conhecer bem a saúde e isso é determinante.”

Contudo, ressalvou, “as administrações não têm flexibilidade para decidir o seu caminho, pois estão estranguladas. Para mudar, é preciso começar a financiar os hospitais. Esse e o principal impulso para uma boa gestão”, concluiu.

 

DIAMEDINT apresentou resultados

Na primeira sessão do último dia do 24.º CNMI foram apresentados os resultados do DIAMEDINT2, um estudo que procura analisar a população diabética nas unidades de Medicina Interna de todo o país.

Conceição Escarigo, uma das especialistas envolvidas neste projeto, explica que o estudo procura conhecer os doentes diabéticos, “pois são doentes complexos e em que temos de ter em conta que podem ter maiores complicações e mais graves”. A médica frisa que o principal objetivo deste trabalho passa por perceber onde é possível melhorar nos cuidados aos doentes, e avançou que foram possíveis extrair já algumas conclusões da análise feita.

“Nesta segunda edição, com 30 serviços a participar, foi possível constatar que temos cerca de 30% de doentes diabéticos no internamento de Medicina. São doentes controlados, numa faixa etária entre os 70 e os 90 anos, cujo motivo principal de internamento é a pneumonia. Quanto à terapêutica em internamento para tratamento de hiperglicemia”, avançou, “não está ainda de acordo com as recomendações que temos da SPMI e da SPEDM, pois a Sliding Scale não deve ser usada e temos de privilegiar a insulina”, terminou.

(04/06/18)