Especialistas mundiais reuniram-se em Lisboa para o 11.º Congresso Internacional de Autoimunidade

Lisboa foi durante os últimos dias, entre 16 e 20 de maio, a capital europeia da autoimunidade ao acolher o 11.º Congresso Internacional de Autoimunidade. O encontro, que decorreu no Centro de Congressos de Lisboa e trouxe a Portugal cerca de 2000 especialistas, debateu as mais recentes inovações e descobertas no campo das doenças autoimunes e teve, segundo o presidente honorário Carlos Vasconcelos, o mérito de proporcionar o contacto entre os maiores especialistas mundiais neste campo.

“É um congresso mundial, feito de dois em dois anos, onde se junta a nata dos autoimunologistas, todos os profissionais que se dedicam às doenças autoimunes, desde os investigadores básicos até aos clínicos. É uma honra para o país acolher este evento pela segunda vez e é ótimo no sentido de podermos estabelecer contactos com os maiores especialistas mundiais”, afirmou Carlos Vasconcelos, que aproveitou para sublinhar a importância de serem criados em Portugal unidades exclusivamente dedicadas aos doentes autoimunes.

Quanto ao papel da Medicina Interna neste universo da autoimunidade, o também diretor da Unidade de Imunologia Clínica do Hospital de Santo António lembrou que quem vê as doenças autoimunes em maior número é inevitavelmente a Medicina Interna e que deve ser a prática clínica a definir quem está melhor preparado para cuidar destes doentes.

“A Medicina Interna é a especialidade mãe de todas as outras especialidades e é fundamental para ver globalmente o doente.”

Doentes foram protagonistas

Numa iniciativa rara em eventos desta dimensão, uma das sessões deste congresso foi marcada pela presença de vários doentes, que puderam de perto acompanhar o que está a ser feito de forma a melhor tratar estas patologias e tirar alguma dúvidas com os especialistas que aí marcaram presença. Foi o caso de Ricard Cervera, co fundador e diretor do Departamento de Doenças Autoimunes no Hospital Clinic, em Barcelona, que explicou que entre as características mais marcantes das doenças autoimunes estão a sua complexidade e diversidade.

“Há muitas doenças autoimunes, são mais de cem. Algumas apenas atacam uma parte do corpo, mas outras envolvem vários órgãos e são chamadas de doenças autoimunes sistémicas. São doenças pouco conhecidas entre a população geral, têm nomes complicados que por si só assustam, mas são até relativamente frequentes, já que entre 10 e 20% da população tem estas doenças. Por isso é muito importante a sua divulgação, procurar que se conheça e se investigue mais estas doenças”, disse o especialista espanhol, que elogiou ainda a iniciativa de trazer os doentes para dentro do congresso.

“Doentes educados, conhecedores e informados sobre a doença têm melhor prognóstico e são mais facilmente controlados. Por isso, esta troca de experiências é fundamental”, concluiu.

Também presente nesta sessão com os doentes, Luís Campos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), aproveitou a oportunidade para explicar que os internistas são especialistas competentes para o tratamento destas patologias e são o garante do acesso de mais de 30000 doentes a uma abordagem diferenciada e a terapêuticas inovadoras.

“Se têm um sintoma ou dor que desconhecem, a melhor pessoa a que devem recorrer em primeiro lugar é ao seu médico assistente. Sabemos que a diversidade de sintomas provocados pelas doenças autoimunes é muito variável e pode confundir-se com sintomas de outra natureza, por isso é sempre melhor o começar pelo médico assistente, que faz uma abordagem da pessoa como um todo e um exercício de diagnóstico diferenciado. E esse médico pode ser o médico de família ou um internista”, sublinhou o presidente da SPMI.

NEDAI liderou sessão sobre autoimunidade

O Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI) da SPMI marcou também presença neste evento internacional. António Marinho, coordenador deste núcleo, defendeu que os doentes possam ter acesso a um grupo de especialistas que proporcionem uma abordagem multidisciplinar da doença e que num mesmo local disponibilizem os melhores cuidados de saúde.

“O NEDAI defende esta política de unidades de excelência e de especialidade. A autoimunidade é uma área da Medicina Interna por excelência. Temos áreas fronteira em que cada subespecialidade é um apoio importante para o cuidado destes doentes, mas indiscutivelmente que uma doença sistémica é uma doença dos internistas. São patologias que atingem vários órgãos e sistemas, com múltiplas morbilidades e complicações, pelo que devem ser geridas por médicos com competência para gerir essa multiplicidade. Por isso, defendemos a existência de equipas multidisciplinares em que cada profissional aporta mais valia para o cuidado do doente”, terminou.

(23/05/2018)