É fundamental criar condições para que os jovens médicos se sintam atraídos pela medicina interna

É fundamental criar condições para que os jovens médicos se sintam atraídos pela medicina interna

A especialidade de Medicina Interna é a especialidade fulcral e o pilar principal na estrutura de um hospital. Por esta razão, tem vindo a refletir, de forma mais evidente, a falta de planeamento que tem existido para o nosso Sistema de Saúde, com a falta de visão a médio e longo prazo, deixando, de forma irresponsável, o Serviço Nacional de Saúde perder qualidade, com a degradação e falta de renovação de edifícios e materiais, não apostando na formação dos profissionais, que se sentem desvalorizados, não renovando recursos humanos, nomeadamente, médicos ou, mais grave, deixando-os sair do país ou do sistema público em busca de melhores condições de trabalho.

A medicina interna, sofre mais com esta falta de investimento nos serviços públicos, o que tem condicionado a redução da sua atratividade para os jovens médicos. Por outro lado, a medicina interna, tem vindo a aumentar a sua área de atuação, desde a urgência ao internamento, não só nas áreas médicas, mas, também, na co-gestão dos doentes cirúrgicos, nos hospitais de dia, na hospitalização domiciliária e nas consultas de Medicina Interna gerais e diferenciadas, nomeadamente de doenças crónicas. É o internista o médico do diagnóstico difícil e do doente com múltiplas patologias. Pode dedicar-se de forma predominante ou mesmo exclusiva a uma área específica mas nunca deixa a visão global e abrangente do seu doente.

É, por isto, fundamental que exista evolução e visão para o futuro a curto, médio e longo prazo para que os jovens médicos se sintam atraídos pela medicina interna. É muito importante reconhecer e atribuir maior valor à orientação diagnóstica e à decisão clínica que os internistas realizam no processo assistencial dos doentes tal como se reconhecem os procedimentos técnicos realizados em outras especialidades. São necessários incentivos remuneratórios, mas, também, tempo para investigação, formação e reuniões clínicas, isto é, maior qualidade para realizar o seu trabalho em prol dos doentes.

A pressão imposta pelo serviço de urgência, onde os internistas passam uma grande parte do seu tempo assistencial, deve ser aliviada, com limites temporais razoáveis, permitindo ao médico manter as outras vertentes da sua atividade clínica.

Os internistas, por seu lado, devem analisar a sua própria atividade e, sem perder a visão versátil e agregadora que os caracteriza, saber modernizar adquirindo competências técnicas e tomando a iniciativa de inovar e juntar novas áreas de intervenção na Saúde e na organização dos serviços e das instituições, passando por conhecer os potenciais benefícios da Inteligência artificial, organizar e implementar procedimentos de telemedicina, liderar a humanização na Saúde e os procedimentos éticos na prática clínica, investir em novas soluções para o sistema de saúde e desenvolver as formas de gestão já existentes e as diversas soluções de cogestão e consultoria ou de organização multidisciplinar. Os internistas têm de estar na liderança das soluções para a crescente pressão de uma população mais idosa e com multimorbilidades, polimedicada e, realmente, com forte impacto no sistema de saúde. São os especialistas de medicina interna os mais preparados para estes desafios.

O ponto alto para esta reflexão tem sido, todos os anos, o Congresso Nacional de Medicina Interna que tem crescido em qualidade e prestígio. Este ano vai já na 31ª edição e realiza-se em Coimbra, uma cidade com grandes tradições académicas, cuja faculdade de Medicina, fundada em 1290, é a mais antiga de Portugal. Será este o local onde se reunirão mais de 1500 especialistas e internos de medicina interna para troca de conhecimentos e experiências em benefício dos doentes e da saúde no geral.

Este artigo foi publicado na CNN Portugal

 

Lèlita Santos – Presidente do 31º CNMI

(22/05/2025)