Doentes Internados com alta clínica e camas extra nos serviços de Medicina Interna – Inquérito 17-03-2021

Este ano, apesar dos esforços do Secretariado da SPMI, apenas tivemos a colaboração de 52% dos Serviços de Medicina Interna do País (54 Serviços responderam / total = 103), em vez dos 68% (70 Serviços) doutros anos. Lamenta-se que as conclusões deste estudo sejam mais débeis, dada a participação ter sido mais reduzida.

A lotação base destes Serviços de Medicina Interna respondedores era de 3.521 camas, verificando-se uma taxa de ocupação de 96%. A lotação das enfermarias Covid destes Serviços era de 920 camas, verificando-se uma taxa de ocupação de 50,5% (439 doentes internados).

O total dos doentes sob a responsabilidade dos Serviços de Medicina Interna era de 4.778 doentes (2.970 doentes não Covid no espaço físico dos Serviços + 343 doentes não Covid internados noutros Serviços + 439 doentes Covid + 920 doentes internados no SU + 106 internados na Hospitalização Domiciliária).

Tal corresponde a mais 1.257 (26,3%) de doentes do que a lotação base, o que é um esforço notável, que terá sido ainda maior no pico da pandemia (Dezembro/Janeiro).

Apesar da pandemia ter reduzido os recursos ao SU, verifica-se que é no Serviço de Urgência, que se encontram internados a maior parte dos doentes em camas extra da responsabilidade de MI (920 doentes /73,2% das camas extra).

Só 17 Serviços em 38 Hospitais respondedores, têm registo de camas de Hospitalização Domiciliária, no total de 106 camas. Este número, corresponde apenas a 2,2% do total das camas sob a responsabilidade de MI. É credível supor, que este irrisório número de camas em HD, reflita a interrupção do programa durante a pandemia. Também se verifica que apenas 16% das UHD colaboraram no tratamento dos doentes COVID.

Quanto aos doentes com alta clinica, que se mantinham internados sob a responsabilidade de MI, eram 14,09%, correspondendo a 496 doentes. Destes, 309 aguardavam vaga na RNCC, 27 nos Cuidados Paliativos, e 160 em Lar da Segurança Social.

No mesmo estudo, em 2020, a percentagem de camas de MI ocupadas por doentes com alta clinica era de 25,07%, o que corresponderia a uma evolução muito positiva. No entanto, é preciso olhar estes números com cuidado, pois assistiu-se a uma “limpeza” das listas de espera para Lar e para a RNCC nos meses de pico da pandemia (Novembro / Dezembro de 2020), pela absoluta necessidade de camas hospitalares para doentes Covid e não Covid. Infelizmente, desde o início de Fevereiro/21, com a redução dos números da pandemia, temos assistido ao retorno do atraso da resposta da Segurança Social, com aumento progressivo dos tempos de espera.

Conclusões finais:

  • O estudo sobre os doentes internados com alta clínica e as camas extra nos Serviços de Medicina Interna, que incidiu no dia 17 de Março de 2021, reflete uma realidade em mutação, em que a pandemia estava já em fase de desaceleração.
  • A percentagem de ocupação das áreas não Covid (96%), demostra que a MI continuou a cuidar de um número semelhante dos seus doentes habituais.
  • A 17 de Março, a capacidade instalada para doentes Covid era o dobro dos doentes internados (taxa de ocupação=50,5%).
  • Os Serviços de MI tinham a responsabilidade de cuidar de mais 1257 doentes (26,3%) para além da sua lotação base.
  • 920 doentes estavam internados no Serviço de Urgência sob a responsabilidade da MI, o que é sempre desaconselhável, mas ainda mais em tempo de pandemia.
  • 496 doentes com alta clínica permaneciam internados nos Serviços de Medicina Interna (14,09% das camas disponíveis), o que contrasta com o grande número de camas extra, principalmente no SU.

João Araújo Correia
(15-04-2021)