Doenças autoimunes: NEDAI quer criar rede de contacto direto com os médicos de família

No próximo mês realiza-se, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, o 5.º Congresso Nacional em Autoimunidade e a XXIII Reunião Anual do Núcleo de Estudos de Doenças Autoimunes (NEDAI). Em entrevista à Just News, António Marinho, coordenador deste núcleo, destaca a necessidade de ser criada uma rede de contacto direto entre a Medicina Geral e Familiar e as especialidades hospitalares.

Queixas articulares, febre prolongada ou lesões cutâneas são alguns dos sintomas que podem ser reveladores da existência de uma doença autoimune e que conduzem, muitas vezes, as pessoas a procurar ajuda médica, recorrendo, na maioria dos casos, em primeiro lugar, a uma consulta de Medicina Geral e Familiar.

Contudo, é frequente que os médicos de família tenham dificuldades em orientar este tipo de patologia, o que, na opinião de António Marinho, “é natural”, dado que a sua formação é muito vocacionada para o serviço de medicina de comunidade – mais dirigida para áreas como a doença cardiovascular, a síndrome metabólica, ou o seguimento da grávida – e as doenças autoimunes estão fora desse espetro, mas sim no das doenças imunomediadas crónicas.

Doenças autoimunes NEDAI

Eu vejo alguns pedidos de consulta que não são urgentes e outros que, não sendo urgentes, são absolutamente prementes”, aponta o internista da Unidade de Imunologia Clínica do Hospital de Santo António, Centro Hospitalar e Universitário do Porto.
Na opinião de António Marinho, e de forma a dar apoio aos médicos de família nesta área, é importante implementar uma rede de contacto direto entre a MGF e as especialidades hospitalares na área das doenças autoimunes, que vise facilitar a mobilização dos doentes do foro autoimune, o diagnóstico precoce, o apoio à consulta, não obrigando o doente a deslocar-se ao hospital sem necessidade, e a monitorização dos doentes, que muitas vezes se dirigem ao hospital para fazer análises e poderiam fazê-lo localmente. Este é um dos projetos que o NEDAI pretende desenvolver no futuro.

O internista considera que esta rede devia funcionar através de um sistema de telemedicina, em que os especialistas hospitalares com experiência na área da autoimunidade dariam uma opinião ao médico de família sobre os casos clínicos, sem obrigar à mobilização dos doentes.

“Em telemedicina consegue discutir-se os casos de forma mais rápida e o doente, quando chega à consulta, já vai orientado”, aponta o médico, sublinhando: “Não faz sentido que, no século XXI, um doente esteja um ano a aguardar uma consulta hospitalar sem ter qualquer orientação nesse período, porque as pessoas não conseguem falar entre elas”.

Nedai

Maria Francisca Moraes-Fontes é a presidente da Comissão Organizadora do 5.º Congresso Nacional em Autoimunidade e XXIII Reunião Anual do NEDAI, que decorre de 13 a 15 de abril, na Fundação Champalimaud, em Lisboa. Em entrevista, a internista conta que, nesta edição, tentou-se introduzir alguma inovação, tendo-se decidido, pela primeira vez, optar por um programa monotemático, com foco no lúpus eritematoso sistémico.

Segundo a responsável pela Unidade de Doenças Autoimunes do Hospital Curry Cabral, Centro Hospitalar Lisboa Central, aquela talvez seja a patologia autoimune que continua a trazer mais desafios, onde começam a existir ensaios clínicos prometedores e em que se vai passar a fazer uma terapêutica diferente.

Maria Francisca Moraes-Fontes e António Marinho

Maria Francisca Moraes-Fontes e António Marinho

Além disso, menciona, “engloba vários aspetos das outras doenças autoimunes e que consegue reunir conhecimentos, desde a investigação básica até aos conhecimentos elementares de imunologia e de genética que são necessários, hoje em dia, para se poder perceber o trabalho que se está a fazer de investigação e de clínica”.

O objetivo é, segundo Maria Francisca Moraes-Fontes, que o evento junte todos aqueles que têm interesse e se dedicam ao tratamento do lúpus eritematoso sistémico, como, por exemplo, cientistas da investigação básica, médicos de família, internistas, reumatologistas, fisiatras, pneumologistas, cardiologistas ou nefrologistas.

Além dos palestrantes nacionais, o evento contará com a participação de especialistas de relevo a nível europeu.

Alguns dos membros da Comissão Organizadora: Sara Castro, Heidi Gruner, Vita Pedro, Maria Francisca Moraes Fontes, António Marinho e Sofia Pinheiro.

Alguns dos membros da Comissão Organizadora: Sara Castro, Heidi Gruner, Vita Pedro, Maria Francisca Moraes Fontes, António Marinho e Sofia Pinheiro.

(18/03/2017)