Direção da SPMI reuniu-se num workshop sobre a necessidade de acrescentar valor à prática clínica

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) convidou Jordi Varela a estar em Portugal para um workshop com o tema “Acrescentar valor à prática da Medicina Interna”. O médico espanhol, especialista em Medicina Familiar e que durante 18 anos foi gestor hospitalar, dedicou-se nos últimos cinco anos a fazer uma reflexão sobre a prática clínica e o seu valor, tendo por base a ideia de que o médico internista deve retornar às suas origens de conhecimento generalista e ser o polo dinamizador do hospital.

“A ideia central desta reflexão é que os médicos deixem de estar tão focados na gestão de temas hospitalares, mas antes como podem, através da sua atividade clínica, dar mais às pessoas que os procuram.”

Com esse fim, o especialista espanhol colocou em marcha um movimento académico sobre o valor da prática clínica e desenvolveu o blog “Avanços na gestão clínica”, que despertou o interesse da Sociedade Espanhola de Medicina Interna pela pertinência que viu no tema.

“Durante o século XX a Medicina Interna foi perdendo especialidades, como Cardiologia, Gastrenterologia ou Endocrinologia, e ficou com o que restava. Hoje muitos internistas dedicam-se a doenças sistémicas, raras, e perderam a essência generalista. No entanto, essa é a vertente que cada vez é mais necessária perante os pacientes que temos: idosos, com várias morbilidades”, sublinhou o médico espanhol, que salientou que não são os médicos de especialidade que podem dar resposta a estas necessidades.

“Os especialistas de hoje são muito maus para ver estes doentes, pois não têm uma visão integrada do doente. Por isso devem ser os internistas o motor deste processo e o centro do sistema. Não há outra possibilidade”, vincou Jordi Varela, que recorrendo a uma analogia com o futebol americano esclareceu o que está em jogo:

“O internista tem de ser o quarterback do hospital onde trabalha. Se assim não for, o doente complexo, cada vez que vai ao hospital, corre o risco de ir a um serviço diferente. As especialidades de hoje têm de ser áreas de conhecimento, não de gestão de camas.”

Embora de nacionalidade espanhola e neste workshop a falar para médicos portugueses, Jordi Varela frisou que este está longe de ser apenas um problema ibérico.

“O problema da medicina fragmentada é mundial e deixa escapar 2/3 dos doentes. Os dados mostram que a adesão ao tratamento está abaixo dos 50%, por isso só podemos concluir que estamos desfocados da nossa atividade. Salvamos bem vidas, mas falhamos no resto”, terminou.

(10/04/2018)