“As jornadas do NEDF procuraram sempre ser abrangentes, focando os temas mais prementes, e por vezes controversos, da atualidade”

Dr. Paulo Carrola

Dr. Paulo Carrola – Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado da SPMI

Coordenador do Núcleo de Estudos de Doenças do Fígado, Paulo Carrola, avança os principais temas que vão marcar as XV Jornadas do núcleo, a realizar-se a 16 e 17 de setembro, em Bragança.

Quais as expetativas para esta que será a XV edição? O que podem esperar os participantes?

A XV edição marca o regresso ao modelo habitual de 2 dias das nossas jornadas. Em 2020 as jornadas foram suspensas em virtude da pandemia COVID19, tendo sido retomadas em 2021. No entanto, devido à incerteza que se vivia realizámo-las em apenas um dia o que não permitiu tempo para convívio e troca de experiências que também são importantes nestes eventos. Felizmente, a evolução da pandemia permite-nos regressar a um planeamento dentro da normalidade. É neste espírito que os participantes poderão contar com um espaço acolhedor, numa cidade que tradicionalmente recebe muito bem quem a visita – Bragança. Apresentamos um programa científico diversificado que incide em temáticas da atualidade revistos por peritos reconhecidos a nível nacional e com interesse particular no doente hepático. Tenho a certeza que será um momento repleto de partilha onde poderemos rever amigos e confraternizar um pouco. Assim, as expectativas não poderiam ser melhores!

Indique alguns dos pontos fortes/temáticas e palestrantes que vão estruturar desta vez o encontro?

As jornadas do NEDF procuraram sempre ser abrangentes, focando os temas mais prementes, e por vezes controversos, da atualidade. Todos as palestras foram criteriosamente selecionadas com este objetivo. No modelo que selecionámos destacaria a mesa inicial de “hot topics”, que inclui assuntos de interesse inquestionável na atualidade e que irão gerar certamente muita discussão entre os participantes, uma mesa sobre doenças raras em hepatologia, que pretendemos replicar em edições posteriores, além de muitos outros temas de impacto na hepatologia como as doenças autoimunes, as doenças víricas, a encefalopatia hepática, os cuidados paliativos e mesmo uma conferência sobre radiologia de intervenção em hepatologia.  Portanto, são inúmeros os motivos que justificam a participação nas nossas jornadas!

Pode falar-se em uma mensagem principal, que irá marcar este evento? Destaca alguma?

A mensagem principal deste encontro é que a Medicina Interna está viva, dinâmica, e projeta no futuro e nos mais novos a esperança de uma Hepatologia de excelência.

O arranque vai fazer-se com uma intervenção intitulada ‘Perspetivas realistas no Horizonte’. Pode antecipar algumas das principais ideias?

Esta palestra surge na mesa dos “hot topics” e constitui um tema desafiante para o palestrante e assistência. A esteatohepatite não alcoólica, entidade há muito reconhecida em Hepatologia, apresenta um impacto na sociedade e nos sistemas de saúde cada vez maior – começa a ser em muitos países uma das principais causas de cirrose hepática e carcinoma hepatocelular. Apesar da importância desta doença não dispomos ainda de um tratamento eficaz que altere a história natural da doença. Daí o desafio que é lançado: dentro da investigação em curso em várias áreas podemos esperar algum tratamento eficaz nos próximos anos e uma mudança de paradigma nesta doença? Para saber a resposta a esta e outras questões sugiro que se juntem a nós em mais este evento.

Que retrato faz no que respeita ao acesso e tratamento de Doenças do fígado, em Portugal?

O acesso e tratamento das doenças do fígado no nosso país está ainda muito aquém do desejado e é muito assimétrico. Se por um lado temos Unidades Hospitalares em que a perceção, sensibilidade e organização para as doenças do fígado está já a um bom nível, existem muitas outras em que, infelizmente, ainda não foram atingidos esses objetivos. Este problema tem constituído uma preocupação do NEDF e ultrapassá-lo é um desígnio para os próximos anos. Neste sentido estamos neste momento em processo de levantamento de todas as Consultas de Hepatologia, no âmbito da Medicina Interna, a nível nacional, e dentro das que já estão organizadas quais as que poderão estar capacitadas para a formação em Hepatologia. São iniciativas que estão a decorrer, mas que certamente irão produzir frutos a curto prazo.

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna com o patrocínio da Alfasigma vai atribuir, nos termos e condições previstas no presente regulamento, prémios para os 3 melhores trabalhos apresentados nas XV Jornadas do Núcleo de Estudos das Doenças do Fígado. O objetivo do prémio é valorizar a atividade clínica e científica do médico Internista e premiar os trabalhos mais interessantes. Qual a importância deste momento?

A atribuição de prémios nas jornadas é uma iniciativa relativamente recente, mas que tem obtido uma recetividade muito interessante entre os participantes.  Constitui sem dúvida uma forma de estimular e enriquecer a participação científica de qualidade nas nossas jornadas. O patrocínio para este prémio por parte da Alfasigma constitui um sinal muito positivo de reconhecimento do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido no âmbito do doente hepático no nosso país por parte do NEDF.

Quais os principais objetivos a que o NEDF se propõe para 2022?

Quando assumi a função de coordenador do NEDF, em setembro de 2021, apresentei a todos um plano de ação para os dois anos seguintes. Dos objetivos a que me propus nesse plano de ação alguns já foram atingidos, outros estão em execução e provavelmente os restantes serão atingidos em 2023. Para este ano destacaria, entre outros, os seguintes: o término do “inventário” das Consultas de Hepatologia a nível nacional e avaliação das suas potencialidades formativas, o regresso do Curso de Cirrose hepática (já na sua 4ª edição), a realização das XV Jornadas e o grande projeto que se inicia já em setembro: a Escola Anual Virtual de Hepatologia, uma parceria com a APEF, iniciativa inovadora e singular no nosso país que certamente constituirá uma referência nesta área.

Entrevista publicada no HealthNews

(11/08/2022)