SPMI no programa ‘Prós e Contras’ em defesa de um melhor SNS

Luís Campos foi um dos convidados do programa da RTP, que debateu o estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde deixou várias chamadas de atenção e salientou a necessidade de mudanças.

A Fundação Champalimaud foi o palco de mais um programa ‘Prós e Contras’, da RTP, que na noite de segunda-feira (15 de janeiro) procurou fazer um retrato do SNS. A gripe e o congestionamento das urgências hospitalares serviram de mote para um debate mais alargado sobre o SNS, a falta de financiamento na saúde, a necessidade de reorganização deste setor e a falta de recursos humanos. Um debate que contou com a presença de Luís Campos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que identificou as coisas boas e chamou a atenção para a necessidade de mudanças.

Para além “de uma boa rede de hospitais de agudos” e dos “belíssimos profissionais” que continuam a existir nos hospitais nacionais, o presidente da SPMI chamou a atenção para o tipo de doentes a que os hospitais têm cada vez mais que dar resposta, muitos idosos, com várias patologias, incapacitados e a lidar com problemas sociais. “O tipo de modelo hospitalar que temos atualmente, dividido em silos dedicados aos órgãos e sistemas, é inadequado para fazer face a este tipo de doentes.”

A SPMI defende, por isso, “departamentos de medicina onde os internistas tomem conta destes doentes e articulem a intervenção de outras especialidades”. E acrescenta a vantagem de existirem  equipas de internistas nos serviços cirúrgicos para optimizarem a condição pré operatória dos doentes e de os vigiarem no pós operatório e ainda a necessidade urgente de criar alternativas ao internamento. “Temos poucas camas hospitalares comparando com a média da União Europeia: apenas 3,4 por cada mil habitantes. Temos que expandir esta capacidade e uma forma rápida de o fazer é criar programas de hospitalização domiciliária, que poderiam ser a solução para 10 a 20% dos doentes que temos internados.”

Mas mais do que isto, segundo Luís Campos o principal desafio e a maior reforma que pode ser feita no sistema de saúde é “a integração de cuidados. Temos atualmente um sistema esquizofrénico: ou tudo juntinho, como nas ULS ou tudo separado”. O que é preciso, defende, é deixar de prestar os cuidados na urgência, de forma fragmentada e aguda, e passar a fazê-lo numa articulação entre os hospitais, os cuidados primários, os cuidados continuados, os cuidados paliativos e a assistência social. “Os doentes precisam e continuarão a precisar da expertise dos hospitais, mas precisam também dos cuidados primários e de tudo o resto. Neste momento, os cuidados hospitalares estão transformados em centros de resolução dos problemas sociais dos doentes.”

Luís Campos chamou ainda atenção para a gestão comum das camas, que precisa de melhorar – Portugal é o segundo país da OCDE com menos taxa de ocupação das camas nos hospitais – e deixou um apelo aos portugueses: “Não se virem contra os médicos. Temos assistidos a um aumento de agressividade em relação aos profissionais de saúde, mas estes não têm culpa. Fazem de forma dedicada o melhor que podem.”

O programa completo está disponível na página de YouTube da SPMI: https://www.youtube.com/watch?v=ZSirb-DYmxU

16/01/2018