SPMI discutiu a investigação e o ensino médico na especialidade

Numa sessão que reuniu um grupo de mais de 35 especialistas de Medicina Interna com responsabilidades académicas das sete universidades do país, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna proporcionou no último fim de semana um espaço de debate em torno dos temas “O papel da Medicina Interna no Ensino Pré-graduado” e “Promoção da Investigação entre internistas”. Entre as conclusões desta reunião ficou a noção de que a Medicina Interna sente necessidade de reforçar o seu protagonismo no meio académico e de fomentar a investigação realizada por internistas.

Luís Campos, presidente da SPMI realçou que, no contexto que temos, com doentes cada vez mais idosos e com multimorbilidades, escassos recursos e hiperespecialização na Medicina, faz cada vez tem mais sentido o reforço da Medicina Interna.”

O presidente da SPMI reconheceu que existe um campo de oportunidades para a Medicina Interna, sobretudo perante o atual modelo hospitalar, que considerou estar ultrapassado.

“A cogestão de doentes cirúrgicos, a medicina ambulatória e a hospitalização domiciliária têm na Medicina Interna a especialidade ideal para avançar, assim como a integração de cuidados com os cuidados de saúde primários. São desafios em que estamos em competição com outras especialidades e que para ganhar temos de ter profissionais muito bons em cada uma das áreas”, afirmou Luís Campos, que terminou com diretrizes para o futuro:

“Temos de ter capacidade de resposta como especialidade generalista, que é a nossa matriz, mas sem esquecer a necessidade de termos pessoas muito diferenciadas em algumas áreas. A investigação e a presença na Academia são fundamentais como forma de fortalecer a nossa posição na Medicina e na sociedade.”

SPMI quer estar na vanguarda destas mudanças

Lelita Santos, vice-presidente da SPMI, fez o diagnóstico da situação: “em conjunto, temos de pensar sobre as dificuldades e constrangimentos no ensino e ensino pós graduado, assim como o papel dos internistas. É certo que há panoramas diferentes de universidade para universidade, mas nota-se que a Medicina Interna está a perder algum protagonismo dentro da Academia face às especialidades de órgão. Os alunos são expostos a problemas mais parcelares e perdem assim a perspetiva global que os internistas deviam colocar na vertente de ensino.”

Já referindo-se à realidade dentro dos hospitais, a especialista admitiu ainda que o muito trabalho que se acumula nas enfermarias não deixa grande margem para o ensino e investigação, mas salientou que esse é um cenário que tem de ser alterado.

“Os serviços de Medicina Interna devem facultar competências universais, mas o que acontece não é isso. Os serviços estão assoberbados de trabalho e não oferecem essa possibilidade. Estamos sempre em multitarefas, ocupados, sem tempo para nos dedicarmos à academia e ao ensino. Assim torna-se difícil ensinar os alunos a serem melhores médicos”, concluiu.

A reunião prosseguiu durante o dia e concentrou-se em definir estratégias para reforçar a presença da Medicina Interna na Academia e melhorar a atividade de investigação científica realizada por internistas.

20-01-2018