Conversemos então de novo sobre VIH/SIDA

Feriado em Portugal, comemorando a restauração da Independência em 1640, 1 de dezembro é também, a nível mundial, o dia de luta contra a SIDA.

Podemos questionar a existência de mais um “dia mundial” dedicado a uma doença. Corremos sobretudo o risco da vulgarização destas efemérides, algumas delas com o seu toque caricatural, voluntário ou não.

Pensemos, no entanto, no conceito de doença crónica. Pensemos no facto absurdo de alguns doentes poderem ser discriminados por terem essa doença. Pensemos ainda no impacto que a infecção por um vírus pode ter no desenvolvimento da sexualidade de adolescentes e jovens adultos. Pensemos em medicações “para toda a vida”.

A doença VIH/SIDA é uma doença, hoje em dia, transmitida essencialmente por via sexual.

É uma doença prevenível, evitável. Continua, no entanto, presente no dia a dia de milhares de portugueses e milhões de outras pessoas a nível mundial.

Falamos pouco de SIDA em Portugal, em 2025. No entanto, as nossas consultas recebem novos doentes diariamente. Doentes que, em muitos casos, revelam um desconhecimento completo em relação a esta patologia.

Conversemos então de novo sobre VIH/SIDA.

Como diz Sérgio Godinho, espalhem a notícia.             

Vamos ao fundo do mundo espalhar que a SIDA se pode prevenir.

Vamos dizer que, além do uso do preservativo, existem meios farmacológicos de Profilaxia Pré Exposição.

Vamos espalhar que existem novas formas de tratamento, sem comprimidos, que consistem em duas injeções de 2 em 2 meses.

Vamos dizer, com muita força, que um doente em tratamento, com carga viral indetectável, não transmite o vírus!

Vamos espalhar, de forma muito enérgica, que qualquer forma de discriminação contra um doente é um acto de uma enorme estupidez!

Mas não há apenas boas notícias.

A infeção pelo vírus da SIDA continua a ser uma doença sem cura. O facto de já ser uma doença crónica, com bom prognóstico, não invalida que a pessoa portadora do vírus tenha de cumprir uma terapêutica para toda a vida.

Os novos casos diagnosticados continuam a ser muitos e, pior que isso, diagnosticados tardiamente, o que faz com que muitos doentes já apresentem complicações à data do diagnóstico.

A forma de evitar os diagnósticos tardios é um alargamento do rastreio a toda a população, independentemente de idade, género, profissão ou nível socioeconómico. Infelizmente, verificamos que se fala cada vez menos desta patologia e os rastreios são insuficientes.

Neste Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, renovamos a nossa convicção que é possível quebrar a cadeia de transmissão, que hoje é essencialmente por via sexual.

Todos devem fazer o “teste VIH” pelo menos uma vez e sempre que acharem que há risco de terem contraído o vírus. Só assim conseguiremos tratar e controlar a totalidade da população infectada, levando assim ao controle virológico e bem-estar de cada um, assim como à tranquilidade e ausência de transmissão na Comunidade.

Fausto Roxo – Coordenador do Núcleo de Estudos da Doença VIH da SPMI

(28/11/2025)