Hospitalização Domiciliária 10 anos – uma opção vital no SNS

“A Hospitalização Domiciliária (HD) define-se como a prestação de cuidados de saúde no domicílio a doentes com patologia aguda ou crónica agudizada, que exijam cuidados hospitalares, e cumpram critérios clínicos, sociais e geográficos que permitam o internamento no domicílio.”

A HD assenta em cinco princípios fundamentais, voluntariedade na aceitação do modelo – por parte do doente e/ou cuidador, igualdade de direitos e deveres do doente – face ao internamento convencional, equivalência de qualidade na prestação dos cuidados – sem prejuízo do prognóstico do doente, rigor na admissão de doentes e no seu seguimento clínico – com base nas melhores práticas clínicas e na melhor evidência científica, humanização de serviços e valorização do papel da família – promovendo a Promoção e Educação para a Saúde.

Surgiu na década de 40 nos Estados Unidos da América. Tem crescido a adesão dos hospitais americanos e europeus a esta abordagem, que se provou segura, eficaz, e com capacidade de resposta a um grande número de patologias médicas agudas evitando todos os problemas inerentes ao internamento convencional.

A hospitalização domiciliária em Portugal, tem início no Hospital Garcia de Orta, em novembro de 2015 e em março de 2018 surge a 2ª Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) em Vila Nova de Gaia, tendo estas 2 unidades dado formação às restantes que foram surgindo.

Em outubro de 2018, 25 hospitais assinaram contratualização com SNS, para abertura de unidades, sendo nessa data nomeado o Dr. Delfim Rodrigues, Coordenador Nacional para a implementação da HD em Portugal. O seu papel foi fulcral na evolução e abertura progressiva das UHDs nos diferentes hospitais.

Em 2019 foi criado o Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária (NEHospDom) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), com o intuito de colaborar na formação, uniformização e partilha de conhecimentos entre as várias unidades. Pretende também promover a investigação. O NEHospDom organiza anualmente um curso sobre HD e o Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária.

Este ano em que a hospitalização domiciliária faz 10 anos, foi conseguida uma cobertura de todos os hospitais do SNS no continente e já abrangendo também a Madeira e Açores, num total de 43 UHD.

Até setembro de 2025 já foram tratados cerca de 52 mil doentes, com uma demora média de 9 dias e uma taxa de mortalidade de 1,7%, de óbitos espectáveis.

Atualmente estão diariamente cerca de 420 doentes internados em casa, o que corresponde a um hospital de média dimensão. Podemos assim dizer que temos um “hospital sem muros”, sendo fácil perceber custo benefício a nível nacional. Foram ultrapassadas as metas estabelecidas pela tutela com alcance em 2022 dos objetivos determinados até 2024.

As admissões diretas (sem passarem pelo internamento) estão a crescer, quer a partir das consultas externas, Hospitais de Dia, quer admissões no domicílio de referenciações dos Cuidados de Saúde Primários (CSP), como de doentes transferidos de outros hospitais para a    UHD da área de residência.

A HD está cada vez mais a afirmar-se não como alternativa ao internamento convencional, mas como a 1ª hipótese para internamento de qualquer doente. E o futuro tem de passar por esta ideia, para que os hospitais fiquem reservados para os doentes mais graves.

Outras modalidades de apoio hospitalar no domicílio estão a surgir, como seja a realização de quimioterapia, transfusões de sangue, programas de reabilitação motora e consideramos que a evolução será para se criar o “Hospital em casa”, em que o doente se encontra verdadeiramente no centro do sistema.

Agora urge reforçar as necessidades das UHDs para conseguirem aumentar o número de doentes, continuando assim a HD a crescer e a desenvolver novas abrangências em tipologias de doentes, cada vez a admitir mais doentes da área cirúrgica.

Esta modalidade de internamento está bem consolidada e tem capacidade para continuar a crescer, representando uma solução para o Sistema Nacional de Saúde perante um problema de sobrelotação, com as vantagens clínicas conhecidas para o doente.

Francisca Delerue – Coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária da SPMI

Este artigo foi publicado na CNN Portugal

(17/11/2025)