Dia Internacional do Idoso: Envelhecer com educação, saúde e oportunidade

O envelhecimento é frequentemente percebido pela sociedade como um período de declínio funcional e cognitivo, limitando a capacidade das pessoas de viver plenamente e alcançar satisfação pessoal. No entanto, esta visão negativa ignora o enorme potencial que cada ano adicional de vida oferece: mais tempo para experiências significativas, aprendizagem, participação social e contributo para a sociedade. Envelhecer pode — e deve — ser visto como uma oportunidade, e não como um problema.

Para transformar esta oportunidade em realidade, é fundamental identificar os determinantes do envelhecimento ativo e saudável. Estes começam desde a vida intrauterina, atravessam a infância, juventude, meia-idade e não têm limite: mesmo após os 50, 60, 70, 80 ou 90 anos, é possível adotar comportamentos que previnam a fragilidade e promovam a saúde e autonomia. Apesar de a investigação ainda se centrar mais em idades jovens, surgem cada vez mais evidências de intervenções eficazes em idades mais avançadas. Entre elas, a educação destaca-se como determinante central.

A educação, seja formal ou informal, prolonga-se ao longo da vida e traz múltiplos benefícios. Estudos mostram que mais anos de escolaridade na juventude contribuem para a manutenção da capacidade cognitiva e prevenção de demência com o envelhecimento. Em idades mais avançadas, aprender continua a ser essencial: aumenta a longevidade, estimula a cognição, reforça capacidades e promove bem-estar. A educação formal pode incluir aprendizagem de novas línguas, música, modalidade desportiva ou aprofundamento em áreas de conhecimento específicas. Já a educação informal, em contextos lúdicos e sociais, estimula interação, socialização e reforço cognitivo. Por exemplo, viajar, assistir a espetáculos artísticos, visitar exposições, participar em clubes de leitura ou tertúlias culturais, envolver-se em oficinas criativas ou em atividades comunitárias, todas experiências que promovem aprendizagem, curiosidade e bem-estar mental.

Portugal enfrenta desafios significativos no âmbito da educação. Segundo o Inquérito às Competências dos Adultos da OCDE, mais de 40% dos portugueses entre 15 e 65 anos têm dificuldades em compreender textos longos ou realizar cálculos básicos. Os resultados mostram que, em literacia, numeracia e resolução de problemas, a proficiência média dos adultos portugueses é inferior à média da OCDE, e o declínio das competências começa já aos 25 anos, muito antes do esperado.

As desigualdades são evidentes: adultos mais velhos, com menor escolaridade ou provenientes de famílias menos instruídas apresentam resultados significativamente mais baixos. Estes dados revelam a urgência de investir em educação ao longo da vida, garantindo que todos os cidadãos, independentemente da idade, possam adquirir e reforçar competências essenciais.

Um domínio particularmente relevante é a literacia em saúde, que oferece um duplo benefício: capacita as pessoas para gerir as suas condições de saúde e adotar estilos de vida saudáveis, enquanto, ao mesmo tempo, promove estimulação cognitiva e contribui para longevidade.

Investir em educação e literacia em saúde não é apenas uma questão de equidade ou produtividade para a nossa sociedade: é uma estratégia para promover qualidade de vida, autonomia e participação ativa das pessoas mais velhas. O envelhecimento saudável depende de políticas públicas e práticas sociais que valorizem a aprendizagem contínua e que reconheçam o potencial de cada fase da vida. Cada pessoa que continua a aprender, a interagir e a cuidar da própria saúde é uma pessoa que prolonga não apenas a sua longevidade, mas também a sua qualidade de vida e capacidade de contribuir para a sociedade.

No Dia Internacional do Idoso, é urgente reafirmar que envelhecer deve ser uma oportunidade e que a educação, em todas as suas formas, é uma ferramenta poderosa para transformar potencial em realidade. Envelhecer com saúde, conhecimento e participação ativa não é um privilégio: é um direito que a sociedade deve garantir a todos.

 

Sofia Duque – Coordenadora do NEGERMI

(01/10/2025)