10 anos de Hospitalização Domiciliária em Portugal
“Vai precisar de ficar internado. O seu tratamento implica medicação e cuidados prestados pelo hospital. No entanto, podemos fazê-lo em sua casa, por uma equipa do hospital, se concordar…” Esta é frequentemente a forma de apresentação da hipótese de ser internado em casa.
Em Portugal, ela repete-se há quase 10 anos – completam-se no próximo dia 16 de novembro, data da admissão do primeiro doente pela Equipa do Hospital Garcia de Orta. À novidade da proposta efetuada, seguiram-se a profunda interação doente- equipa-família e a certeza de ter conseguido aliar eficientemente a segurança do hospital ao conforto de casa.
O sucesso alcançado nesta experiência pioneira, já inequivocamente demonstrado há várias décadas noutras paragens, foi estímulo para a expansão do conceito. Em toda a caminhada sobrevêm sobressaltos, adversidades e até desalentos. A da Hospitalização Domiciliária (HD) não fugiu à regra. No entanto, a convicção na validade e nos benefícios desta modalidade de internamento mantém-se inabalada. Comprova-o a atual existência de equipas HD em todo o país e um total de mais de 59 000 doentes admitidos.
A visão global da pessoa doente é, sem dúvida, vantagem adicional dos Internistas na abordagem do internamento em casa. Aí desenvolvem, verdadeiramente, cuidados de saúde centrados no doente: onde, como e com quem vivem. A adequação do estilo de vida deixa de ser equacionada de forma abstrata e tem maior viabilidade de concretização.
A HD é também palco da mais bem conseguida ação multi e interdisciplinar no setor da saúde. O êxito do plano terapêutico, entendido em todas as suas vertentes e no que concerne aos profissionais, alicerça-se no trabalho conjunto, lado-a-lado. Fundamental para “levar o hospital a casa” é o suporte dos Farmacêuticos como garantia de qualidade a nível medicamentoso. Nenhum aspeto é descurado e há larga margem para informar e formar doentes, famílias e cuidadores, incluindo quer os temas da gestão do receituário quer os temas de ordem social, mercê do trabalho de proximidade das Assistentes Sociais das Equipas.
Se, inicialmente, predominaram como motivo de internamento em casa as patologias de foro médico, logo se associaram situações de pré e pós-operatório das diferentes áreas cirúrgicas. O crescendo da demanda e do conhecimento adquirido permitiu o internamento em casa durante o período gestacional e de puerpério, de doentes em fase final de vida e também na idade pediátrica.
Correspondendo ao desafio da epidemia SARS-CoV2, as Unidades HD assumiram um papel decisivo ao facultar aos hospitais uma alternativa segura de internamento, facilitando a existência de camas para as situações graves. Saliente-se o desempenho de Enfermeiros de Reabilitação e Terapeutas na recuperação respiratória e funcional destes doentes. Neste especial contexto foi evidente a utilidade da monitorização à distância que, salvaguardada a observância de critérios estritos, constitui ferramenta valiosa e já disponível em vários locais.
Para a implementação das diferentes unidades HD concorreram de forma indispensável a partilha desinteressada e fraterna inter-equipas, a capacidade de superação dos seus profissionais e o empenho ímpar, diligente e inovador do Dr. Delfim Rodrigues, Coordenador Nacional HD até maio deste ano.
Chegados aqui, num projeto tornado realidade transversal em tempo singular no SNS, importa refletir conjuntamente (o 5º Congresso Nacional de Hospitalização Domiciliária ocorre este mês), rever o caminho palmilhado, relembrar a nossa essência para integrar o que, sendo novo, não nos afaste da nossa missão e do que é o internamento em casa.
Nos focos de especial atenção incluem-se: o melhor modelo de organização das equipas, tendo em conta as suas eficácia, eficiência e sustentabilidade económico-financeira; a interação no seio das ULS; o impacto e o controlo da tecnologia; o desenvolvimento da área nutricional; a formação e acompanhamento dos cuidadores.
Desejavelmente uma resposta ainda mais efetiva ao cidadão doente implica do ponto de vista hospitalar o alargamento da carteira de serviços, isto é a definição do Hospital em casa que inclui a HD= internamento em casa (tal qual como foi pensada e se tem desenrolado em Portugal) e os Cuidados Hospitalares no Domicílio ( que não implicando estar internado são de cariz estritamente hospitalar: transfusões; quimio e imunoterapia…)
O apreço e o reconhecimento de doentes e cuidadores/familiares, tão intensa e expressivamente testemunhados às Equipas HD é alavanca major em cada jornada de trabalho cuidando e tratando quase 4 centenas de doentes.
Fazer jus ao legado de vida recebido, cuidar das equipas, desenhar confiadamente o futuro eis as tarefas dos próximos 10 anos!
Olga Gonçalves – Coordenadora do Núcleo de Hospitalização Domiciliária da SPMI
Este artigo foi publicado na CNN Portugal
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(10/09/2025)