Medicina Interna presente em força nas Jornadas Hospitalares 2018

A Medicina Interna marcou presença de forma significativa nas “SNS Jornadas Hospitalares 2018”, um encontro promovido pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) na Escola Superior de Tecnologia de Saúde, com o objetivo de promover o conhecimento e a partilha de boas práticas na área hospitalar.

Numa das sessões dos dois dias de trabalho, dedicada ao tema “Utilização Evitável de Cuidados Hospitalares” e com moderação de Rosa Reis Marques, presidente do Conselho Diretivo da ARS Centro, foram quatro os especialistas de Medicina Interna convidados, dando nota dos projetos que estão atualmente a ser desenvolvidos de forma a tornar os cuidados de saúde mais próximos das necessidades do doente e da comunidade.

Luís Campos, diretor do Serviço de Medicina Interna do Hospital de São Francisco Xavier (HSFX) e presidente da SPMI, apresentou o “Programa de gestão integrada de cuidados aos doentes crónicos complexos”, do Serviço de Medicina do HSFX em conjunto com ACEs de Oeiras, e começou por explicar que a Medicina Interna está intimamente relacionada com os cuidados integrados.

“Fala-se muito de cuidados integrados precisamente por causa dos doentes a quem temos de prestar cuidados. São doentes com uma média de idade elevada, com multimorbilidades, que vêm morrer ao hospital e que são high users da urgência e de todo o sistema de saúde, representando os maiores custos do sistema de saúde. É o que a literatura anglo saxónica chama de silver tsunami, um problema que já temos mas que vai aumentar nos próximos anos”, sublinhou o presidente da SPMI, acrescentando que atualmente os cuidados que estão a ser prestados são episódicos, reativos, fragmentados, centrados na doença e através da urgência.

“Queremos mudar este paradigma para cuidados proativos, centrados no doente, que vão desde os cuidados primários, aos cuidados continuados, paliativos e prevenção da doença.”

Quanto ao projeto implementado pelo Serviço de Medicina do HSFX em conjunto com ACEs de Oeiras, Luís Campos destacou que as principais intervenções passam pelo plano terapêutico, ensino, encaminhamento para outras especialidades, apoio social e requisição de MCDTs, tendo sido alcançada a simplificação terapêutica, a ativação de mecanismos de apoio e de planos de intervenção mais eficazes.

Internamentos Evitáveis: o exemplo da ULS Litoral Alentejano

Adelaide Belo, internista e coordenadora do programa de gestão de caso e integração de cuidados da ULS Litoral Alentejano, apresentou o programa que vigora nesta unidade e realçou que “os internamentos evitáveis correspondem a um grupo de patologias que podem e devem ser tratadas e prevenidas nos cuidados de primeira linha, em ambulatório”, mostrando que entre 2013 e 2016 o padrão dos internamentos evitáveis se manteve praticamente inalterado, com destaque para as pneumonias, IC congestiva, DPOC e doença crónica resultante da diabetes. Perante este cenário, deixou a solução:

“Para gerir os internamentos evitáveis das doenças crónicas temos de gerir o doente crónico, habitualmente com multimorbilidades, que assenta em dois grandes pilares: a estratificação do risco e a integração de cuidados.”

Sobre o modelo da ULS Litoral Alentejano, a especialista frisou que teve em conta a demografia e geografia da região, assim como a curva evolutiva da doença crónica, num processo que é completamente centrado no doente.

“A gestão de caso é um processo colaborativo, que permite a integração de cuidados em torno das necessidades do doente crónico. É focada nas necessidades do indivíduo e da família, baseada nas necessidades da comunidade, e proativa, numa abordagem holística e multidisciplinar, com base numa boa comunicação.”

Quanto a resultados, a especialista mencionou a diminuição do número de internamentos, mas também a demora média desse internamento, em virtude do acompanhamento do gestor de caso.

“São doentes que precisam de uma resposta atempada e constatámos uma diminuição de vindas à urgência, diminuição de consultas de MGF e consultas hospitalares. Há uma clara tendência para melhorar o controlo dos doentes e para uma redução do número de internamentos evitáveis e menor utilização dos serviços. É, pois, altura de repensarmos o que fazemos e fazer de maneira diferente”, terminou.

Gestão de Doentes Complexos na ULS Matosinhos

A terminar a sessão, Maria do Céu Rocha, especialista de Medicina Interna da ULS Matosinhos, começou por frisar que a Medicina Interna tem de ter um papel central na gestão dos “novos doentes”.

“Os doentes não têm só uma doença. Têm várias doenças e por isso o internista é o médico por excelência para tratar todas essas situações. A gestão dos doentes crónicos é para a Medicina Interna”, sublinhou.

Quanto ao projeto da ULS Matosinhos, a internista explicou que tal como noutras experiências existe um gestor de caso, no caso um enfermeiro da comunidade, que é responsável pelo doente e monitoriza toda a sua situação clínica, comunicando com a equipa de saúde familiar ou com o médico internista, que coordena esta equipa de cuidados integrados.

Os resultados são ainda preliminares, mas Maria do Céu Rocha apontou a importância da redução já observada do número de internamentos e visitas ao serviço de urgência como as principais conquistas até ao momento deste projeto piloto ainda em fase de implementação.

(28/02/2018)