Diretores de Medicina Interna e Orientadores de Formação reuniram nas Caldas da Rainha

Os diretores dos serviços de Medicina Interna de Norte a Sul do país estiveram reunidos nas Caldas da Rainha para, em conjunto, analisarem os problemas e desafios que se colocam à Medicina Interna.

O evento, que decorreu no dia 28 de outubro, teve como temas principais a promoção da qualidade nos serviços de Medicina Interna e a importância da formação, analisando questões como o burn-out, o impacte das unidades diferenciadas na melhoria dos cuidados, a influência do registo clínico na qualidade dos serviços ou a reformulação do programa de formação de Medicina Interna de acordo com os novos desafios que a especialidade enfrenta.

Na abertura do evento esteve presente João Araújo Correia, secretário geral da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), que afirmou que a realização deste encontro procura fomentar que os diretores de serviço estejam na base de todas as mudanças na especialidade de Medicina Interna.

“Os diretores são os motores da mudança e só com a sua presença podemos avançar”, realçando que o esquema destas reuniões é sempre pensado em estreita colaboração com o Colégio de Especialidade de Medicina Interna, dando primazia às questões relacionadas com a melhoria dos serviços de Medicina Interna e, por outro lado, às novas questões, abordagens e dúvidas que resultam da prática clínica.

Armando Carvalho, presidente do Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos, sublinhou que os colégios de especialidade devem articular-se com as sociedades científicas e que reuniões com este espírito são iniciativas que devem repetir-se, destacando do programa desta reunião dois aspetos fundamentais: “a qualidade e a formação, não fechando a porta aos novos desafios”.

Seguidamente, Luís Campos frisou também a importância da presença dos diretores de serviço, considerando-os “fundamentais dentro dos hospitais portugueses” e realçando o interesse de se “alinharem estratégias e falar a uma só voz” no seio da Medicina Interna.

Aproveitando a ocasião, o presidente da SPMI enumerou também as prioridades da direção que preside desde 2016:

“Foi feita uma aposta na renovação da imagem da SPMI e na internalização da sua informação, assim como uma mudança de logótipos de todos os núcleos, que passaram a ter uma imagem moderna e de acordo com a imagem da SPMI. Estamos também a apoiá-los e a apostar fortemente no desenvolvimento da formação, como é prova o número de cursos promovidos. No campo da afirmação científica”, continuou, “a equipa editorial tem feito um ótimo trabalho, mas em relação à investigação é importante fazer um esforço acrescido”.

A concluir, Luís Campos falou ainda do que tem sido feito no sentido de colocar a SPMI em diálogo com os principais interlocutores na área da saúde, revelando que houve já reuniões com o Ministério da Saúde e com o Bastonário da Ordem dos Médicos, estando previstas para muito brevemente uma reunião com a direção da ACSS e com a APMGF.

A terminar, anunciou em primeira mão que a Festa da Saúde, evento promovido pela SPMI pela primeira vez este ano, em 2018 terá lugar na cidade do Porto.

Medicina Interna: uma pirâmide de base estável

A qualidade no serviço de Medicina foi um dos temas centrais do dia de trabalhos e um dos palestrantes, José Delgado Alves, alertou a plateia para a necessidade de recolocar a Medicina Interna no patamar de excelência que deve ocupar. Usando uma imagem geométrica, o especialista comparou a Medicina Interna a uma pirâmide e explicou porque deve ser o eixo central de qualquer sistema de saúde.

“A Medicina Interna tem uma visão global do doente. Esta é uma conceção com que toda a gente concorda. Mas eu considero que esse não deve ser o objetivo final. Somos uma pirâmide, com uma base de conhecimento muito alargada, ao contrário de outras especialidades, que são torres e buscam a elevada diferenciação. E o que sabemos é que a base da pirâmide é mais estável e pode ser igualmente alta e estreita no topo. Isto para dizer que a Medicina Interna, pela forma como consegue ver o doente como um todo, pode e deve relacionar diferentes aspetos e permitir que de si nasçam pontos de diferenciação tão bons como os que nascem da torre.”

O médico deixou ainda aos presentes o repto para que lutem pela imagem da especialidade, combatendo a visão de que se trata “apenas de uma especialidade útil, mas pouco sofisticada e científica”.

“Esta visão é um erro. Cultivámos a imagem de sermos o João Semana do hospital, o que não está errado, mas essa estratégia não é incompatível com um elevado nível de conhecimento científico e uma elevada capacidade de investigação, porventura melhor do que as outras especialidades”, concluiu.

Formação: um novo modelo adaptado aos desafios atuais da Medicina Interna

Outro tema em debate durante esta reunião foi a necessidade de readaptar o programa de formação perante os novos desafios que a Medicina Interna enfrenta. Um dos palestrantes da tarde foi Nuno Bernardino Vieira, membro do secretariado do Núcleo de Estudo de Formação em Medicina Interna (NEFMI), que frisou precisamente esta necessidade de reformular o programa de formação do internato.

“Trata-se atualmente de um programa muito vago nas definições que faz, pelo que temos de procurar defender a Medicina Interna nas várias áreas em que queremos que os internistas sejam competentes”, avançou o especialista, acrescentando que um interno quando acaba a sua formação e se torna internista tem de oferecer a garantia de ser competente para desempenhar determinadas funções.

“Para isto”, assumiu, “é preciso repensar o programa de formação, reformulando também os estágios, não obstante as pessoas poderem optar por áreas em que têm mais gosto e assim obter maior especialização”.

Por fim, Nuno Bernardino Vieira assinalou que é também preciso uniformizar a formação de hospital para hospital, criando algumas definições e obrigatoriedades, sob risco de haver internistas com formações demasiado díspares consoante a zona do país.

(28/10/2017)