XXIV Reunião Nacional do NMIHD debateu realidade dos hospitais distritais

Portalegre acolheu durante os dias 9, 10 e 11 de novembro a XXIV Reunião Nacional do Núcleo de Medicina Interna dos Hospitais Distritais. Na sessão de abertura do evento esteve presente a Dr.ª Isabel Soles, presidente da reunião e diretora do serviço de Medicina Interna do Hospital de Portalegre, e Abílio Gonçalves, presidente do NMIHD, que recordou que foi precisamente em Portalegre que nasceu o núcleo e mostrou satisfação pelo seu crescimento.

“Estas reuniões têm crescido, pois acredito que continua a fazer falta que falemos da realidade dos hospitais distritais, organizações que têm menos valências e características diferentes, e que por isso são importantes ser discutidas”, disse Abílio Gonçalves, acrescentando ainda que durante os dias de reunião serão discutidas as principais patologias e dado espaço à formação.

Luís Campos, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), foi outra das presenças em Portalegre e na sua intervenção sublinhou o papel fundamental que a Medicina Interna desempenha nos hospitais distritais, lembrando que a invasão dos hospitais por uma população idosa, com doenças crónicas e grande morbilidade, intensifica a necessidade de uma Medicina Interna forte.

“Outro fator que torna cada vez mais importante a nossa especialidade”, continuou Luís Campos, “é o crescimento do conhecimento e a consequente hiperespecialização que torna cada vez mais necessária uma especialidade generalista no hospital.. Somos uma especialidade eficiente, diferenciamo-nos no que é necessário, somos flexíveis, mas temos igualmente de ter capacidade de resposta, e isso depende da forma como conseguirmos integrar a manutenção deste perfil generalista com o desenvolver dos vários fenótipos de ser internista. Esta capacidade amplia a capacidade de resposta dos serviços e a qualidade dos cuidados que prestamos.”

Outra ideia deixada pelo presidente da SPMI foi a de que a organização atual dos hospitais não se adequa mais aos doentes que assiste.

”Defendemos um modelo departamental, onde o internista tome conta dos doentes médicos que entram pela urgência os doentes e coordene a intervenção de outras especialidades. Queremos também mudar o paradigma de assistência aos doentes nos serviços cirúrgicos, e implementarmos programas de cogestão, pois usualmente somos chamados tarde demais”, realçou, avançando que a medicina ambulatória é outra das áreas potenciais de desenvolvimento da Medicina Interna, criando soluções diversas alternativas ao internamento.

“A hospitalização domiciliária não é a solução milagrosa , mas é certamente a solução para muitos doentes.”

Por último, o presidente da SPMI mencionou a importância da integração de cuidados com a MGF, classificando-a como “a grande oportunidade de reforma do SNS”.

“Temos de garantir aos doentes continuidade de cuidados e para isso a MGF e a Medicina Interna são especialidades fundamentais”, concluiu.

A fechar a sessão de abertura teve a palavra Manuel Delgado, secretário de Estado da Saúde, que começou por reconhecer que os hospitais distritais não têm as mesmas características do hospitais centrais e que a Medicina Interna desempenha neste cenário um papel fulcral.

“Os problemas e as carências destes hospitais são diferentes, e até o acesso dos doentes é diferente. Também por isso, a Medicina Interna deve ser uma especialidade central, com um papel pivot na sua organização clinica.”

Tal como o presidente da SPMI, o governante assumiu que são cada vez mais as pessoas idosas a frequentar os hospitais e que isso exige esforço redobrado à Medicina Interna, assim como uma mudança de paradigma na assistência:

“A Medicina Interna luta com sobreocupação de camas. Mas, por outro lado, os serviços de Medicina têm também níveis de internamento superiores ao desejável. Isto não é bom, nem para os doentes nem para os hospitais. Este panorama, a que se aliam reinternamentos frequentes, tem ainda a particularidade de ter como porta de entrada a urgência”, notou o governante, que ainda assim reconheceu que a Medicina Interna é a área onde mais se trabalha na tentativa de substituir internamentos por assistência em ambulatório.

“A Medicina Interna tem sobre estes temas uma visão holística que nenhuma outra especialidade tem e sabemos que os ganhos de efetividade são maiores quando se trabalha com especialidades com estas características.”

Abordando já as soluções para tais problemas, o político reiterou a necessidade de mudar o foco da saúde e dirigi-lo para a doença crónica e para o doente idoso, “porque é daqui que nos chegam os maiores problemas”, considerou.

“Isto pressupõe novas formas de atuação: precisamos de identificar grupos de doentes em que o potencial de gravidade é maior e trabalhar com eles num acompanhamento integrado de características preventivas. Não podemos ser reativos mas antes pró-ativos. Além disso, o foco tem de ser não o hospital mas o domicílio, o que exige a criação de equipas mistas de acompanhamento e que tenham elas próprias mobilidade”, disse Manuel Delgado, que uma vez mais salientou que a Medicina Interna tem de estar no epicentro desta mudança.

“Temos de passar da admissão por urgência para uma admissão programada em Medicina Interna. É uma mudança de modelo em que é essencial capacidade de acompanhar o doente quando ele está em casa, perceber indicadores, e desencadear a preparação do seu internamento, sem que tenha de passar pela urgência”, terminou.

(13/11/17)